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Queimadas multiplicam em propriedades rurais na Amazônia

Queimadas multiplicam em propriedades rurais na Amazônia
Focos de incêndio em Porto Velho

Enquanto o desmatamento despencou na Amazônia em junho, atingindo o nível mais baixo dos últimos cinco anos, os incêndios bateram recorde na floresta. Somente no mês passado foram registrados 3.075 focos, o maior índice desde 2007. Em comparação com 2022, o crescimento foi de 20%.

Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) são preocupantes, visto que ainda nem chegou a época mais crítica de incêndios. Segundo Alberto Setzer, coordenador do Programa Queimadas do Inpe, junho costuma ter 12 vezes menos focos que setembro, o auge da temporada de fogo.

O forte El Niño que se desenvolve no Oceano Pacífico, aumentando a temperatura das águas, é um dos fatores que influencia a intensidade das secas e do fogo. Neste ano, especialistas esperam temperaturas até 2,5°C acima da média em alguns locais, o que eleva o risco de eventos climáticos extremos.

Em 2007, um El Niño de grandes proporções elevou em 29% as queimadas na Amazônia, mesmo com o desmatamento em queda. Em 2023, a situação parece se repetir. Outra explicação para o recorde de queimadas em junho está na proibição do fogo, que começou em 1º de julho no Mato Grosso e vai até 31 de outubro.

Para Setzer, é provável que muitos produtores rurais tenham antecipado a queima de áreas desmatadas para evitar penalização, e os números corroboram com essa hipótese. O estado concentrou 64% dos focos entre 3 de junho e 2 de julho com 81% das queimadas detectadas em imóveis inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Em todo a Amazônia, a maioria das queimadas (68%) foram em propriedades rurais. Ano após ano a floresta sofre com queimadas provocadas por fazendeiros e grileiros, que aproveitam a estação seca para renovar pastagens ou queimar a vegetação derrubada e consolidar invasões. Com a baixa umidade, o fogo se alastra e provoca grandes incêndios.

“A principal fonte de ignição dos incêndios florestais na Amazônia é humana, por práticas produtivas ainda ligadas ao desmatamento e ao manejo de pastagem. Descargas elétricas por raios seriam a fonte natural, entretanto, essas ocorrem normalmente no período de chuvas, quando a Amazônia está mais úmida, difícil para o fogo se alastrar”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).