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Empresas falham em conter desmatamento em suas cadeias de suprimentos

Empresas falham em conter desmatamento em suas cadeias de suprimentos

Os maiores consumidores mundiais de soja, carne bovina, madeira e outros produtos ligados ao desmatamento ainda estão longe de assumirem compromissos efetivos contra a derrubada florestal. É o que mostra o relatório Forest 500, realizado pela Global Canopy, organização sem fins lucrativos que estuda o impacto do mercado internacional sobre a natureza.

Por nove anos, a ONG investigou os investimentos e a cadeia de suprimentos das 500 empresas e instituições financeiras mais ligadas às commodities de risco florestal (óleo de palma, soja, carne bovina, couro, madeira, celulose e papel). O levantamento revela que 201 (40%) ainda não definiram uma política única sobre o tema e nenhuma atende a todos os requisitos de combate à violação dos direitos humanos.
Ainda há um grupo de 109 empresas (31%) que não assumiu compromisso para acabar com o desmatamento relacionado a nenhuma das commodities. Até as que se comprometem a acabar com a derruba florestal não estão fazendo isso efetivamente, já que a metade não fiscaliza seus fornecedores.
O relatório também denuncia a conivência e inação das instituições financeiras, que fornecem US$ 6,1 trilhões às empresas ligadas à derrubada florestal, mas não adotam compromissos anti-desmatamento. Dos 150 bancos e investidores incluídos no Forest 500, somente 16 (11%) possuem políticas para todas as commodities avaliadas.

“Já ultrapassamos o prazo estabelecido por muitas organizações para deter o desmatamento em 2020, e estamos a apenas dois anos do prazo da ONU para que empresas e instituições financeiras eliminem o desmatamento causado por commodities, bem como a conversão e os abusos de direitos humanos associados. Esse é um passo crucial para alcançarmos nossas metas globais de zero emissões líquidas e evitar mudanças climáticas catastróficas”, aponta a Global Canopy.

Por ano, cerca de 9 milhões de hectares de floresta são perdidos para dar lugar cultivos agrícolas, o que contribui diretamente com as mudanças climáticas, com a perda de biodiversidade e com a pressão sobre povos indígenas e tradicionais.

Mercado brasileiro

No Brasil a situação se repete. As empresas estão pouco comprometidas com a redução do desmatamento, que é uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa no país. A carne bovina é produzida em larga escala em regiões como a Amazônia, onde o avanço da agropecuária é motor de destruição da floresta e uma grande ameaça ao clima global.

O relatório aponta que a AFG Brasil, Natura, Grupo Jari e outras gigantes brasileiras estão com pontuação baixa quando se trata de controlar o desmatamento associado às commodities utilizadas. Segundo levantamento da Repórter Brasil, mais de mil lojas varejistas da rede Carrefour estão envolvidas com o desmatamento e utilizando mão de obra análoga à escravidão.

Com base em informações do aplicativo Do Pasto ao Prato, ferramenta que permite identificar a origem da carne bovina disponível no mercado, pelo menos 26 unidades de produção localizadas na Amazônia Legal forneceram carne para a rede em 2022. Dentre os fornecedores estão duas grandes empresas do ramo: JBS e Masterboi.