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Rochas de plástico são encontradas na Ilha de Trindade (ES)

Rochas de plástico são encontradas na Ilha de Trindade (ES)
Plastiglomerado encontrado na Ilha de Trindade. Crédito: Fernanda Avelar Santos

Estimativas recentes apontam a existência de aproximadamente 2,3 milhões de toneladas de plástico nos oceanos. O acúmulo do material nos ecossistemas marinhos tem gerado efeitos irreversíveis até para o ciclo geológico da Terra. Em expedição à remota Ilha de Trindade, no Espírito Santo, pesquisadores brasileiros encontraram rochas de plástico, idênticas às naturais.

O trabalho, conduzido pela doutoranda da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Fernanda Avelar Santos, identificou rochas de plástico no Parcel das Tartarugas, região com a maior concentração de ninhos da tartaruga-verde (Chelonia mydas) e de recifes de caracóis marinhos do país.

As formações, que têm aparência, consistência e solidez semelhantes às de rochas naturais, não possuem mais do que 20 anos, aponta a pesquisa. O material é formado pela fusão de detritos plásticos com sedimentos naturais, como areia, cascalho, rochas vulcânicas e materiais biogênicos.

“Identificamos quatro tipos de formas de detritos plásticos, distintos em composição e aparência. Os depósitos plásticos na plataforma litorânea recobriam rochas vulcânicas; sedimentos da atual praia compostos por cascalhos e areias; e rochas praiais com superfície irregular devido à erosão hidrodinâmica”, descreve Fernanda.

Foi a primeira vez que rochas desse tipo foram encontradas no Brasil. Até então os registros eram restritos a locais como o Havaí (Estados Unidos), Cornualha (Inglaterra), Mar Interior de Seto (Japão), ilha do Giglio (Itália), ilha da Madeira (Portugal) e costa do Peru.

Arquipélago de Trindade e Martim Vaz

A ilha de Trindade pertence ao arquipélago de Trindade e Martim Vaz, que surgiu do embate entre a água fria e o magma incandescente de vulcões nas profundezas do Oceano Atlântico. A lava das erupções formou uma cordilheira submersa, a cadeia Vitória-Trindade.

A cadeia representa uma formação única no planeta, composta por uma cordilheira de montanhas de mais de 1.000 km de extensão. A região é reconhecida nacional e internacionalmente como um hotspot, área de alta prioridade para a conservação da biodiversidade.

O arquipélago possui a mais alta diversidade de algas calcárias do mundo, a maior riqueza de espécies recifais e endêmicas de todas as ilhas brasileiras e ainda uma das maiores taxas de peixes e tubarões do Atlântico Sul.

Interferência no ambiente

Os achados da pesquisa demonstra o quanto a ação humana está impactando os ambientes marinhos, podendo causar consequências desastrosas para a fauna e flora. O levantamento constata que os seres humanos estão agindo como agentes geológicos, afetando diretamente os depósitos sedimentares.

Os autores do estudo alertam que é fundamental repensar o conceito de “natural” em vista das mudanças provocadas pelas intervenções humanas. A coautora do estudo e mestranda em Geologia pela UFPR, Giovana Diório, explica que a poluição marinha causada pelo comportamento humano está provocando uma mudança na geologia da Terra.

“As ocorrências mostram que o impacto humano, assim como os seus resíduos, estão tão presentes no meio ambiente que começaram a influenciar processos antes considerados essencialmente naturais, a exemplo da formação de rochas”, destaca a pesquisadora.