Mata Atlântica lidera perda global de anfíbios
Hotspot mundial de biodiversidade, a Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas e ameaçadas do planeta. Pesquisa publicada em janeiro na revista Biological Conservation mostra que o bioma brasileiro concentra os maiores declínios populacionais de anfíbios do mundo. As causas são fatores ambientais, mudanças climáticas e doença de pele mortal.
Ao analisarem 169 populações de 106 espécies em baixa no Sul e Sudeste da Mata Atlântica, os pesquisadores mais que dobraram o número de declínios relatados em estudos anteriores. Os registros, que vão do fim do século XIX até 2020, abrangem os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O artigo “Retrospective overview of amphibian declines in Brazil’s Atlantic Forest” (Uma visão retrospectiva dos declínios de anfíbios na Mata Atlântica do Brasil, em tradução livre) aponta redução de aproximadamente 15% nas cerca de 700 variedades de anuros existentes no bioma.
As evidências sugerem que o pico dos declínios ocorreu em 1979 e as recuperações das espécies, quando ocorreram, levaram mais de 30 anos. Das 169 populações analisadas, 128 não se reestabeleceram ou não foram encontradas no mesmo lugar. Embora preocupantes, os dados podem estar subestimados, afirmam os cientistas.
“Muitos declínios recentes na população de anfíbios ainda não foram documentados porque é preciso um certo tempo para perceber mais claramente esse fenômeno. “Provavelmente só daqui a uns 10 ou 15 anos vamos saber de verdade que espécies estão desaparecendo hoje”, destacou o zoólogo e líder da pesquisa, Luís Felipe Toledo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fungo mortal
Desde sua descoberta, nos anos 1990, a doença conhecida como quitridiomicose é relacionada a eventos de morte em massa, ao declínio e à extinção de centenas de espécies de sapos, rãs e pererecas em todo o mundo. Na Mata Atlântica, a situação não é diferente.
A doença causada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) contamina a pele dos anfíbios e prejudica o funcionamento do organismo, levando os animais à morte por colapso cardíaco ou hepático. Os indivíduos que não morrem ficam mais lentos e fracos, tornando-se mais vulneráveis a predadores.
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