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Brasil pode financiar gasoduto poluente na Argentina pelo BNDES

Brasil pode financiar gasoduto poluente na Argentina pelo BNDES

Ambientalistas se mobilizam contra o financiamento do gasoduto argentino Néstor Kirchner pelo governo brasileiro. No final de janeiro, o presidente Lula confirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) custeará parte do gasoduto, que utiliza fraturamento hidráulico (fracking) para extrair gás de xisto. O método de extração é altamente poluente para as águas e a atmosfera.

O empreendimento, localizado entre a reserva de Vaca Muerta, na Patagônia, também pode afetar a população da etnia mapuche, alertam mais de 90 especialistas e representantes da sociedade civil, incluindo a Amda, em ofício enviado ao BNDES e ministérios de Meio Ambiente, Relações Exteriores e dos Povos Originários.

Investir em um projeto de extração de gás natural colocaria o Brasil na contramão dos esforços para conter a crise climática, ressaltaram os signatários do ofício. Banida em vários países devido aos danos ambientais e potencial indutor de movimentos sísmicos, a extração de xisto é feita por meio da fragmentação de rochas para liberação de hidrocarbonetos.

São inseridas sondas no solo – de até 3 mil metros de profundidade – que injetam mais de 700 sustâncias químicas diluídas em água e em altíssima pressão, fazendo com que as rochas “fraturem” e o gás seja liberado. O processo gera grandes riscos de contaminação de aquíferos.

Durante o procedimento também ocorre liberação de metano pelas fissuras na rocha. Parte das toxinas injetadas nas paredes rochosas ainda é depositada em tanques a céu aberto, o que facilita a evaporação das substâncias e, consequentemente, seu acúmulo na atmosfera.

“É inadmissível que o Brasil venha a financiar, por meio do BNDES, essa prática reconhecidamente geradora de impactos ambientais, em áreas onde existe cenário conflitante com reivindicações de povos originários. Portanto, solicitamos que o BNDES se abstenha de aportar recursos públicos brasileiros”, apontou o documento.

Investimento

No ano passado, a secretária de Energia da Argentina, Flavia Royón, já havia anunciado o aporte de US$ 689 milhões, proveniente do BNDES, para concluir o segundo trecho da obra. Em visita ao país em janeiro, o presidente Lula disse que criaria condições para oferecer o financiamento.

“Eu tenho certeza que os empresários brasileiros têm interesse no gasoduto, nos fertilizantes, no conhecimento científico e tecnológico que a Argentina tem. E, se há interesse dos empresários e dos governos, e nós temos um banco de desenvolvimento para isso, vamos criar as condições para fazer o financiamento que gente puder fazer para ajudar no gasoduto argentino”, afirmou Lula.