Mata Atlântica produz metade dos alimentos consumidos no Brasil
Responsável por aproximadamente metade da produção agropecuária nacional, a Mata Atlântica compreende apenas 26% das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) do setor. A combinação de desmatamento zero, restauração florestal e sistemas agrícolas de baixa emissão podem fazer com que o bioma se torne neutro em carbono no setor de uso da terra.
As conclusões são do estudo “Produção de Alimentos na Mata Atlântica”, realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica, com apoio da Cátedra Josué de Castro, a partir de dados do IBGE, MapBiomas e do Atlas da Agropecuária Brasileira. O objetivo foi avaliar a situação fundiária, o uso da terra e a produção de alimentos no bioma para adoção de sistemas agroalimentares saudáveis e sustentáveis.
Presente em 3.429 municípios de 17 estados brasileiros, o bioma abriga 27% das terras agropecuárias, onde estão 40% dos estabelecimentos rurais do país. A Mata Atlântica tem grande participação na produção de commodities para exportação e responde pela maior parte da produção agrícola de consumo direto da população, aponta o estudo.
Segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2017, a Mata Atlântica responde por:
- 52% da produção vegetal de alimentos de consumo direto (exceto milho, soja e cana);
- 30% da produção vegetal de não alimentos (fibras, látex e algodão);
- 43% da produção de soja, milho e cana-de-açúcar, culturas alimentares de consumo direto, indireto (ração de animais) e de energia;
- 56% da produção de alimentos de origem animal;
- 90% do café conilon, 90% do feijão preto, 76% da aveia, 68% do tomate de mesa, 97% da maçã, 63% dos ovos, 63% da banana, 61% da cebola, 54% da batata, 88% do brócolis, 86% do chuchu;
- 62% de cabeças animais (bovinos, ovinos, aves, suínos), sendo 27% do rebanho bovino.
Para atender a demanda por alimentos, o bioma foi exposto, por séculos, a um padrão de derrubada florestal, exaustão da capacidade produtiva e abertura de novas áreas. Hoje, a Mata Atlântica é o bioma mais devastado do país, restando apenas 12,4% de florestas maduras e bem preservadas.
“Desde o início da colonização portuguesa, em 1500, o sistema agroalimentar brasileiro dependeu basicamente da Mata Atlântica durante a maior parte da história, mas seu potencial atual para contribuir, de forma sustentável, com a segurança alimentar da população brasileira ainda é pouco conhecido e explorado”, destacou Jean Paul Metzger, professor do departamento de ecologia da USP e um dos autores do estudo.
O levantamento aponta fatores que favorecem mudanças na produção alimentar no bioma, diminuindo a dependência dos agrotóxicos e adotando sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis. São eles:
- A maior parte da população do Brasil (70%) se concentrar nas áreas urbanas do bioma, demandando, de forma crescente, serviços ecossistêmicos;
- A Mata Atlântica abranger 80% do PIB nacional, o que melhora as condições para o financiamento da restauração e a criação de mercados para os produtos da restauração;
- As tecnologias e a oferta de serviços ligados à restauração ecológica para a Mata Atlântica estão muito avançadas;
- Os principais centros consumidores de produtos agropecuários e alimentares estão no bioma.
“Pode a Mata Atlântica realmente se transformar em uma região com um novo paradigma agroecológico e saudável, em escala e hegemônico, em substituição às tecnologias atuais?”, questionou o coautor da pesquisa Gerd Sparovek, coordenador do Geolab (Esalq-USP).
Para ele, a mudança é possível, desde que sejam retomas, fortalecidas e implementadas políticas norteadoras, como a Lei da Mata Atlântica, o Código Florestal, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).