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Brasil é o país mais letal para ambientalistas no mundo

Brasil é o país mais letal para ambientalistas no mundo
Isaac Tembé foi uma dos ativistas mortos no Brasil em 2021./ Crédito: Arquivo Pessoal

O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, em junho deste ano, está longe de ser o primeiro ou o último atentado contra ambientalistas no Brasil. Relatório divulgado na quarta-feira (29) pela organização Global Witness coloca o Brasil como o país mais letal para defensores da terra e do meio ambiente.

O levantamento mostra que, entre 2012 e 2021, um ativista ambiental foi morto a cada dois dias no mundo, totalizando 1.733 homicídios. Somente o Brasil concentra 20% dos assassinatos registrados no período. O número ainda pode estar subestimado devido à falta de liberdade de imprensa e de monitoramento em algumas regiões.

“Com as democracias cada vez mais sob ataque global e agravando as crises climáticas e de biodiversidade, este relatório destaca o papel crítico dos defensores na solução desses problemas e faz um apelo urgente aos esforços globais para proteger e reduzir os ataques contra eles”, destacou a organização.

Somente no ano passado, 200 pessoas foram mortas ao redor do mundo por protegerem suas terras e seus direitos. Foram quase quatro mortes por semana. O México liderou os ataques, com 54 assassinatos. Logo em seguida aparece o Brasil, que passou de 20 mortes em 2020 para 26 em 2021.

Desde que a Global Witness começou a produzir seus relatórios, o Brasil é o país mais letal para ativistas ambientais. Na última década, 342 ambientalistas foram mortos em território brasileiro. Cerca de um terço era indígena ou afrodescendente, e mais de 85% dos homicídios aconteceram na região amazônica.

A Global Witness atribui o aumento da violência no Brasil, principalmente na Amazônia, aos conflitos por terras e recursos, que se intensificaram no governo atual. A organização classificou o assassinato de Bruno e Dom no Vale do Javari como indicativo do ataque aos povos indígenas e àqueles que tentam protegê-los.

“Desde que Bolsonaro chegou ao poder, ele encorajou a extração ilegal de madeira e o garimpo, enfraqueceu a proteção dos direitos indígenas, atacou grupos de conservação, desmantelou e reduziu os orçamentos e recursos dos órgãos de proteção ambiental e indígena. Isso permitiu que quadrilhas e organizações criminosas invadissem impunemente áreas indígenas e de conservação”, apontou a relatório.

Desigualdade fundiária é motor de conflitos no Brasil

O Brasil está entre os países com maior desigualdade fundiária, que se intensifica em estados produtores de comodities, como Mato Grosso Mato Grosso do Sul, Bahia e na região do Matopiba (que compreende áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o que gera inúmeros conflitos.

Um desses conflitos causou a morte do trabalhador rural e membro do Movimento Sem Terra Fernando Araújo, em janeiro 2021. Ele foi testemunha e sobrevivente do maior massacre de trabalhadores rurais no Brasil desde 1996, o massacre de Pau d’Arco, em 2017, que resultou na morte de 10 trabalhadores rurais pela polícia na fazenda Santa Lúcia, no Pará. Até agora, ninguém foi acusado ou preso pelo seu assassinato.

No mês seguinte, o jovem indígena Isaac Tembé foi baleado à queima-roupa por policiais militares em sua terra. Segundo o povo Tembé-Teneteraha, a Polícia Militar atua como uma milícia privada que defende os interesses de latifundiários e pecuaristas que ocupam ilegalmente áreas da Terra Indígena.

Para a Global Witness, o caso ilustra a íntima relação entre o agronegócio brasileiro e o terror patrocinado pelo Estado em terras indígenas, que piorou significativamente sob o regime de Bolsonaro.

Causas das mortes

No mundo todo, a exploração de recursos – extração madeireira, mineração e agropecuária em larga escala – barragens hidrelétricas e outras obras de infraestrutura foram os setores que mais motivaram ataques contra ambientalistas em 2021. A mineração foi o setor ligado ao maior número de mortes no ano passado, com 27 casos: México (15), Filipinas (6), Venezuela (4), Nicarágua (1) e Equador (1).

O relatório também documentou a escalada da violência contra indígenas ao redor do mundo, que sofreram mais de 40% dos ataques fatais no ano passado, apesar de representarem apenas 5% da população mundial.