Quase 70% da Câmara vota contra meio ambiente
Levantamento mostra que dois a cada três deputados federais, o que corresponde a 68% da Câmara, são favoráveis aos retrocessos ambientais promovidos pelo atual governo. Desde a posse de Jair Bolsonaro, esses parlamentares apresentam e votam em projetos de lei contra o meio ambiente, trabalhadores do campo, povos indígenas e tradicionais.
As conclusões são do Ruralômetro 2022, plataforma desenvolvida pela Repórter Brasil para avaliar o desempenho socioambiental da Câmara dos Deputados. Foram analisadas 28 votações nominais e 485 projetos apresentados na atual legislatura, iniciada em fevereiro de 2019. Cada deputado recebeu pontuação entre 36⁰ C e 42⁰ C. Quanto pior o desempenho, mais alta é a temperatura.
O levantamento mostra o fortalecimento da bancada ruralista e sua influência na aprovação de leis antiambientais, como o Projeto de Lei 6299/2002, mais conhecido como “Pacote do Veneno”. A proposta desmantela a atual Lei dos Agrotóxicos para permitir o registro de substâncias cancerígenas e colocar ainda mais veneno no prato dos brasileiros.
O dep. Luiz Nishimori (PL-PR) foi um dos principais nomes da Frente Parlamentar Agropecuária que articularam a aprovação do PL. Além de relator do texto, ele foi um dos signatários do pedido de urgência para acelerar a votação. Nishimori ficou com 39,8° C no ruralômetro, o que indica o mal desempenho do parlamentar.
Entre os retrocessos aprovados pela Câmara também está o PL 3.729/2004, que praticamente acaba com o licenciamento ambiental no Brasil. A versão aprovada, do dep. Neri Geller (PP-MT), é considerada a pior e mais radical desde a proposição do projeto. Geller também foi mal avaliado pelo ruralômetro, ficando com 38,8° C.
Novo tem a pior avaliação
Com oito deputados, o partido Novo ganhou a pior avaliação no Ruralômetro (39,3° C, em média). O ex-ministro Ricardo Salles, investigado por esquema de exportação ilegal de madeira, é um dos políticos que já passou pela legenda. O líder do partido na Câmara é Tiago Mitraud (Novo-MG).
Entre os parlamentares mineiros, Mitraud detém a terceira pior pontuação (39,3° C) no ruralômetro, ficando atrás apenas de Pinheirinho, do PP (39,7° C) e Junio Amaral, do PL (39,7° C). Em quarto lugar aparece outro deputado do Novo, Lucas Gonzalez (39,2° C).
Dando nome aos bois
Na liderança geral do Ruralômetro está Nelson Barbudo (PL-MT, 42°C). Todos seus oito projetos incluídos no levantamento foram considerados danosos ao meio ambiente. Uma de suas propostas prevê reduzir de R$ 50 milhões para R$ 5.000 o limite máximo de multas ambientais. Barbudo seria diretamente beneficiado pela mudança, já que deve R$ 25 mil ao Ibama desde 2005.
Em segundo lugar aparece Lucio Mosquini (MDB-RO, 41,3°C), autor do PL que altera o Código Florestal para ampliar a área legal de reserva natural que pode ser desmatada sem necessidade de autorização. Já o terceiro pior avaliado foi o delegado Éder Mauro (PL-PA, 40,9°C), autor de dois projetos que flexibilizam regras para o garimpo.
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