Águas barrentas em Alter do Chão são causadas por garimpo ilegal, revela análise
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As imagens que circulam nas redes sociais mostrando as águas do rio Tapajós tomadas por barro têm chamado a atenção de moradores, turistas e pesquisadores. Conhecida internacionalmente como “Caribe da Amazônia” devido às águas cristalinas, a vila de Alter do Chão, no Pará, foi tomada por uma água turva e barrenta. Segundo análise do projeto MapBiomas, feita a partir de imagens de satélite de alta resolução, o fenômeno está ligado ao avanço do garimpo ilegal.
Os pesquisadores explicam que, embora o fenômeno seja comum, o aumento de sua intensidade e duração acendem um alerta. Além dos sedimentos do rio Amazonas que adentram o Tapajós na época de cheia, a exploração garimpeira no trecho entre Jacareacanga e Santarém contribui bastante com a turbidez.
O garimpo ilegal na Amazônia, tanto terrestre quanto em rios (balsas), cresce em taxas alarmantes, principalmente na bacia do rio Tapajós, onde a atividade triplicou na última década. Dados do MapBiomas indicam que a exploração garimpeira avança sobre áreas protegidas, principalmente na floresta amazônica, que compreende 93,7% de todo o garimpo existente no país.
De 2010 a 2020, a área ocupada por garimpos em territórios indígenas e unidades de conservação cresceu 495% e 301%, respectivamente. Os territórios Kayapó, Munduruku e Yanomani são os mais afetados.
Rastro de destruição
A análise MapBiomas aponta que o transporte de sedimentos pelos rios e lagos da Amazônia é um dos principais impactos do garimpo, que desmata e escava o solo ou draga o fundo dos rios para obter ouro. Esta adição de sedimentos altera as características físico-químicas da água e, consequentemente, a cor de rios e lagos.
O garimpo nas margens desmata, tornando o solo passível de ser arrastado pela chuva. Já o garimpo dentro do rio, por meio de dragas, revolve o solo subterrâneo do rio, colocando os sedimentos na superfície. Em ambos os casos, a atividade pode produzir essa coloração barrenta, que é observada em Alter do Chão.
“É possível ver claramente a pluma de sedimentos descendo dos afluentes tomados pelo garimpo avançando Tapajós adentro. Na altura da cidade de Itaituba, capital brasileira do ouro ilegal, o outrora chamado ‘rio azul’ fica opaco, e essa turbidez avança até a foz”, explicaram os pesquisadores.
Contaminação
Especialistas alertam que além dos sedimentos do garimpo ilegal, que sujam as águas da bacia do Tapajós, a outro problema causado pela atividade: a poluição por mercúrio. A substância, comumente usada pelos garimpeiros para ajudar na aglutinação do ouro, é tóxica e pode causar problemas neurológicos.
O mercúrio polui as águas e infecta os peixes, uma das principais fontes alimentícias dos moradores da região. Um estudo coordenado por Heloísa Meneses, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), revelou que 80% dos moradores de Santarém, cidade próxima à Alter do Chão, tinham no organismo índices de mercúrio superiores ao que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda.
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