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Raias encontradas mortas no litoral de SP foram abandonadas propositalmente

Raias encontradas mortas no litoral de SP foram abandonadas propositalmente
Foto: Ellen Marchiori/Instituto Biopesca

Pesquisadores do Instituto Biopesca descobriram a origem das carcaças de raias e tubarões encontradas nas proximidades da aldeia indígena Tapirema, no litoral de São Paulo, no final do ano passado. Após analisar os corpos, o instituto divulgou nota técnica indicando que os animais eram possíveis vítimas da pesca de arrasto e foram abandonados propositalmente na região.

Rodrigo Valle, coordenador-geral do Instituto Biopesca, afirma que as 55 raias ticonha, em sua maioria da espécie Rhinoptera bonasus, os três filhotes de tubarão martelo (gênero Sphyrna) e uma raia móbula (Mobula sp) não encalharam ali. As carcaças foram transportadas para o local.

“Quando é um encalhe natural, a gente não vê esses animais agrupados e colocados da forma como estavam. A gente olha todos esses aspectos, a distância do local até a linha da água, o quanto que tem de faixa de areia, até onde a maré avança quando ela sobe, e a disposição delas no local”, explica.

Outro ponto levantado pelos pesquisadores é que as carcaças apresentavam marcas e pequenos ferimentos na pele, possivelmente feitos por redes de pesca. “É um tipo de marca característica e indicativa de rede, e foi isso que as análises indicaram”, destaca Rodrigo.

As análises revelaram que os animais foram capturados acidentalmente por redes de pesca. A situação é comum principalmente na pesca de arrasto, método destrutivo em que grandes redes jogadas em áreas profundas são puxadas em alta velocidade, arrastando tudo que há pela frente.

“Infelizmente este tipo de ocorrência está relacionada às atividades realizadas de forma que, no mínimo, não seguem preceitos alinhados às boas práticas e com a conservação ambiental, o que resulta em grande impacto na fauna e contribui para a diminuição dos recursos pesqueiros na região”, alerta o Instituto Biopesca.

Como impedir a captura acidental

Para Rodrigo Valle, é preciso buscar alternativas para que os animais possam ser retirados das redes e devolvidos ao mar antes que morram. Já existem ferramentas, como o Turtle Excluder Device (TED), que é acoplado às redes de arrasto para permitir o escape de animais presos acidentalmente. No Brasil, o uso do dispositivo é obrigatório desde 1994, mas a maioria dos pescadores não o utiliza em suas embarcações.

O TED consiste em uma grade metálica que permite a passagem de animais pequenos, a exemplo dos camarões, mas barra os maiores, como tartarugas, tubarões e raias. Esses animais são excluídos da rede por uma espécie de janela inserida no túnel da rede de arrasto. Sem este dispositivo, as espécies capturadas acidentalmente são jogadas novamente ao mar, geralmente feridas e sem condições de sobreviverem.