Perda de corais pode extinguir 40% dos peixes de recifes
O aumento da temperatura nos oceanos, provocado pelas mudanças climáticas, pode exterminar os corais e, consequentemente, causar perda de 40% das espécies de peixes que vivem nos recifes. O alerta vem de estudo liderado pelo pesquisador Giovanni Strona, da Universidade de Helsinque, publicado no mês passado.
A relação entre a morte de corais e a diminuição de peixes recifais já havia sido apontada por estudos anteriores, em pequena escala. Agora, o novo estudo publicado na revista científica Proceedings da Royal Society aponta os impactos da perda em escala global. A pesquisa sugere que em um mar sem corais, inúmeros peixes deixarão de existir.
Embora haja uma série de fatores que interfira na extinção dessas espécies, a estimativa é que quase metade dos peixes de recife tropical do mundo desapareça se os corais deixarem de existir. Espera-se que esse desdobramento seja ainda mais intenso em alguns lugares, como no Pacífico Central, cuja perda esperada é de mais de 60%, contra apenas 10% no Atlântico Ocidental.
As perdas são muito maiores do que a de espécies conhecidas por dependerem dos corais, sugerindo que as teias alimentares dos recifes de coral começarão a se desfazer se os corais forem extintos, que se traduz em um nível alarmante de destruição da biodiversidade marinha.
“Isso não é particularmente surpreendente, dado que os corais fornecem uma fonte de alimento única para algumas espécies, bem como um habitat tridimensional que muitas espécies usam como abrigo. E os peixes que dependem dos corais podem ser presas de peixes que não dependem diretamente dos corais”, explica Giovanni Strona.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores levantaram o número de corais e peixes existentes nos recifes, chegando à conclusão de que regiões com mais corais possuem maior biodiversidade marinha. Eles também calcularam quais peixes dependem diretamente dos corais e as espécies que se alimentam desses peixes.
“Para quem já gostou de mergulhar em um recife de coral ou para os milhões de pessoas que dependem de peixes de recife para se alimentar, esse experimento deve ser preocupante. Mas também inspira maiores esforços para conservar e restaurar os recifes de coral. Os benefícios de fazer isso se estenderia muito além dos corais, para peixes e outros organismos que dependem direta ou indiretamente dos corais”, destaca Kevin Lafferty, cientista sênior do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).
Os corais estão morrendo
Os corais são seres vivos que, geralmente, vivem em colônias chamadas de recifes. Muitas espécies de peixes pequenos dependem diretamente deles para se alimentar, abrigar ou defender de predadores. A principal ameaça aos corais é o aquecimento das águas.
Os corais vivem em relação de simbiose com microalgas coloridas, as zooxantelas. Enquanto os corais fornecem abrigo para as microalgas, elas fornecem cor e nutrientes para os corais. Com o aumento das temperaturas, os corais tendem a expulsar as zooxantelas, o que pode acarretar no branqueamento e morte dos corais.
Nos últimos anos, as temperaturas oceânicas e terrestres bateram recorde. O ano passado foi considerado o mais quente ao lado de 2016. Em 2020, os termômetros ficaram 1,25 °C acima do período pré-industrial (1850-1900), fazendo dos últimos seis anos os mais quentes desde o início dos registros.
As consequências do calor sobre corais são cada vez mais evidentes. Nos últimos 30 anos, estima-se de a Grande Barreira de Corais da Austrália, maior conjunto recifal do mundo, perdeu 50% de seu tamanho. Estima-se que, nos últimos 150 anos, o mundo perdeu metade de todos os seus recifes de corais.