Duas novas espécies de corujas são encontradas no Brasil
Um esforço internacional para análise de corujas do gênero Megascops, resultou na catalogação de duas novas espécies brasileiras: a corujinha-de-alagoas e a corujinha-do-xingu. A primeira é restrita a fragmentos de Mata Atlântica nos estados de Alagoas e Pernambuco, enquanto a segunda é encontrada apenas no bioma amazônico. As descobertas foram publicadas em artigo científico, na revista Zootaxa.
A pesquisa, realizada por pesquisaores do Brasil, Finlândia e Estados Unidos, concentrou-se na análise da variação morfológica, vocal e genética do gênero Megascops, que abrange mais de 20 espécies de aves noturnas de pequeno porte (que possuem entre 20 e 25 centímetros de comprimento). Eles analisaram mais de 250 peles de corujas de coleções científicas, 83 gravações e 49 amostras genéticas.
Os resultados indicam que uma das espécies, a corujinha-de-alagoas (Megascops alagoensi) corre elevado risco de extinção. Ela é encontrada no Centro de Endemismo de Pernambuco, local ao norte do rio São Francisco, cujas matas abrigam inúmeras espécies ameaçadas e que não ocorrem em nenhum outro lugar no mundo.
Mais de 430 tipos de aves vivem na região, cerca de dois terços das aves encontradas em toda a Mata Atlântica. Constantemente, novas espécies são encontradas no local. Uma das descobertas mais recenes foi a do surucuá-de-murici (Trogon muriciensis), que também está criticamente ameaçado de extinção.
Segundo o ornitólogo Sidnei Dantas, um dos autores do estudo, a corujinha-de-alagoas precisa de florestas em bom estado de conservação para sobreviver, mas, na área onde vive, há apenas minúsculos fragmentos florestais em meio a plantações de cana-de-açúcar que não sustentam uma população em longo prazo.
“Esses fragmentos não estão conectados entre si, essa é a grande tragédia dos bichos que habitam essa região. Não há uma grande área de floresta e as populações já são pequenas e extremamente fragmentadas”, disse ao ((o))eco.
Corujinha-do-xingu
Embora não sofra risco eminente, a corujinha-do-xingu também vive em uma região ameaçada, entre os rios Tapajós e Tocantins, na região do Xingu. Sua área de ocorrência sobrepõe o arco do desmatamento, a fronteira agrícola que mais sofre com desmatamento ilegal no Brasil.
Seu nome científico (Megascops stangiae) é uma homenagem à missionária e ambientalista norte-americana Dorothy Mae Stang, que foi brutalmente assinada em um assentamento rural na cidade de Anapu, no Pará, em 2005. Ela ficou conhecida pela participação em programas socioambientais de reflorestamento e geração de renda na Amazônia, na mesma região onde a coruja foi encontrada.
De acordo com Sidnei, a coruja ainda é comum nessas áreas, que sofrem com o avanço da fronteira agrícola e pecuária. “Ela está numa situação mais confortável, mas pode estar futuramente ameaçada se o ritmo do desmatamento continuar acelerado”, destacou o pesquisador.