Política antiambiental ganha força com Zambelli na Comissão de Meio Ambiente da Câmara
19 de março de 2021
Bolsonaro em audiência com Zambelli em 2019. Crédito: Marcos Corrêa/PR [CC BY]
Com Arthur Lira (PP-AL), indicado de Jair Bolsonaro, na liderança da Câmara dos Deputados, o governo ganhou força para infiltrar aliados em cargos-chaves no Legislativo. Na última semana, Carla Zambelli (PSL-SP), deputada federal que já acusou ONGs de atearem fogo na Amazônia, assumiu a presidência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) sob protestos de ambientalistas.
Zambelli é uma das maiores aliadas de Bolsonaro na Câmara. Como presidente da CMADS, ela pode acelerar a aprovação de matérias de interesse do governo, que tratam da liberação da caça de animais silvestres, mineração em terras indígenas e flexibilização do licenciamento ambiental.
Em seu discurso de posse, a deputada repetiu falácias do governo, como “o Brasil é um exemplo de sustentabilidade para o mundo” e disse que trabalhará ao lado da Comissão de Agricultura, presidida pela deputada Aline Sleutjes (PSL-PR), que tentou, em 2019, extinguir o Parque Nacional dos Campos Gerais, no Paraná.
Ambientalistas temem a aprovação de um pacote de retrocessos com a chancela de Carla Zambelli, que não é conhecida por sua atuação na área ambiental, mas pelas falas controversas. A deputada chegou a dizer que o Brasil teve os menores índices de queimadas em 2019, quando, na verdade, o país havia superado números do ano anterior, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Zambelli segue a cartilha de [Ricardo] Salles e deve colocar para andar a boiada contra o meio ambiente em meio à pandemia, que até então estava restrita às canetadas do governo”, destacou Luiza Lima, assessora de Políticas Públicas do Greenpeace.
Seu vice, o Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), também é alvo de polêmicas. Em reportagem, a BBC News Brasil denunciou seu envolvimento em uma cadeia de grilagem de áreas protegidas na Amazônia. Os segundo o terceiro vice-presidentes, deputados Carlos Gomes (Republicanos-RS) e Carlos Henrique Gaguim (DEM-TO), também são conhecidos pela atuação anti-ambiental e ligação com a bancada ruralista.
Atropelo na Câmara
Com risco de a legislação ambiental ser “atropelada” enquanto o país enfrenta uma crise sanitária, a Amda e mais 255 organizações da sociedade civil protocolaram carta públicapedindo que os esforços do Congresso Nacional sejam direcionados ao enfrentamento da pandemia e não à proposição de retrocessos ambientais.
“Defendemos o debate público e democrático de uma agenda propositiva capaz de favorecer os compromissos climáticos, promover um crescimento econômico inclusivo e salvaguardar nossas florestas, povos indígenas e comunidades tradicionais. Esse diálogo construtivo somente será possível num contexto de funcionamento regular do Congresso Nacional e com ampla participação da sociedade”, defenderam as ONGs.