O Rodoanel de BH é necessário, mas há alternativas de menor impacto e custo do que a proposta do governo
12 de janeiro de 2021
Atual traçado do Rodoanel sobrepõe áreas de grande riqueza natural na região da Serra da Calçada.
Press release
Belo Horizonte, 12 de janeiro – A construção do Rodoanel Metropolitano de BH volta à tona, com o governo de Minas anunciando que será custeado com recursos da indenização pleiteada à Vale em função do desastre da mina do Córrego do Feijão. A empresa patrocinou os estudos preliminares do mesmo. O traçado da Alça Sul disponibilizado no site da Secretaria de Infraestrutura, se mantido, causará impactos ambientais inaceitáveis.
Pela proposta apresentada, o segmento sul da nova rodovia inicia-se na BR-381, em Betim, e tangencia os limites do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, cortando importantes áreas naturais da Vale e de terceiros, algumas já declaradas como Reservas Particulares de Patrimônio Natural. Estas áreas, situadas ao longo do alinhamento das serras do Rola Moça e dos Três Irmãos, além de funcionarem como significativo corredor de ambientes naturais, protegem o manancial de água do Rio Paraopeba, considerado o segundo mais importante de toda a RMBH.
Caminhando em direção à BR-040, saída para o Rio de Janeiro, a rodovia atravessará, nas imediações de Casa Branca/Brumadinho, esplêndidos remanescentes de Mata Atlântica, como os da Fazenda Jangada, da Vale. Seguindo em direção à Serra da Calçada, a rodovia cortará seu trecho mais importante pelos aspectos geomorfológico e de biodiversidade – a Tutaméia, onde grandes e antigos remanescentes de Mata Atlântica, com árvores colossais, Cerrados e várias tipologias campestres, incluindo os raríssimos campos ferruginosos, graminosos e quartzíticos, marcam a diversidade da paisagem.
Parte desta área encontra-se protegida pelo Monumento Natural da Serra da Calçada, que abriga relíquias históricas, como o Forte de Brumadinho, cuja implantação remonta ao ciclo do ouro, e várias trilhas pavimentadas com pedras. Elas eram usadas no século XVIII para transporte de alimentos entre a localidade de Piedade do Paraopeba e os centros mineradores de Ouro Preto, Congonhas e Mariana. O local fica apenas a 25 km de Belo Horizonte e tornou-se ponto de atração turística para caminhantes e ciclistas.
Apesar de tão próximos à capital, os ambientes naturais neste trecho da serra e no vale do Paraopeba, em Brumadinho, abrigam animais ícones de nossa fauna, como a onça-parda, lobo-guará e diversas outras espécies ameaçadas de extinção, ocorrências que indicam o alto nível de conservação dos mesmos. Curiosamente, o traçado proposto parece basear-se no estranho princípio de “áreas despovoadas”, como se animais, rios e florestas não “povoassem” a região.
É de conhecimento público o gigantesco potencial de danos ambientais causados por rodovias. Começam durante a construção, com a remoção da vegetação natural, barulho de máquinas que apavoram a fauna, movimentação de terra que em boa parte é carreada para cursos d’água e lixo. Mas, o pior acontece quando são abertas ao tráfego.
No caso do Rodoanel Sul, a Serra da Calçada e o Parque Estadual da Serra do Rola Moça funcionam atualmente como limitadores à ocupação humana. O traçado proposto abrirá as portas para que isso aconteça, ampliando a derrubada da Mata Atlântica, aumentando os riscos de incêndios, presença de lixo e o flagelo ambiental do atropelamento de animais silvestres, considerado hoje como uma das maiores causas de extermínio da fauna nas regiões brasileiras mais densamente ocupadas.
Não se discute aqui a importância do Rodoanel, cuja necessidade é inquestionável, já que o atual foi engolido pela expansão urbana desordenada, permitida pelo poder público. Mas também inquestionável é a necessidade de proteção dos ambientes naturais e do patrimônio histórico-cultural que o traçado proposto atinge. Há alternativas de muito menor impacto e custo, que não podem ser ignoradas. Conciliar os dois aspectos é dever do governo. O Rodoanel é necessário. Mas não mais que os serviços ambientais, sociais, culturais e econômicos prestados pela natureza.