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Redes de supermercados e fast food britânicos estão ligados ao desmatamento no Brasil

Redes de supermercados e fast food britânicos estão ligados ao desmatamento no Brasil
Crédito: Jim Wickens/Ecostorm

Os principais supermercados e restaurantes de fast food do Reino Unido estão vendendo frango alimentado com soja proveniente de áreas desmatadas no Brasil, revelou investigação do Escritório de Jornalismo Investigativo (TBIJ, sigla em inglês). Estima-se que as exportações brasileiras estejam associadas a milhares de incêndios florestais e 800 quilômetros quadrados de desmatamento no Cerrado, bioma mais impactado pelos cultivos do grão.

Ao rastrear as terras usadas pelos fornecedores de soja do Cerrado, os investigadores encontraram um rastro de desmatamento, levando até grandes varejistas, como Tesco, Asda, Lidl, Nando’s e McDonald’s. Todos compram frango alimentado com a soja da Cargill, gigante do agronegócio que aporta, anualmente, mais de 100 mil toneladas de soja do Cerrado em território britânico.

De acordo com o levantamento, realizado em parceria com o Greenpeace Unearthed, ITV News e The Guardian, o Reino Unido abate pelo menos um bilhão de frangos por ano, sendo, muitos deles, engordados com a soja da Cargill. A empresa fornece para as granjas da Avara, que engorda, abate, processa e distribui o frango às redes de grandes varejistas.

Dados obtidos pela consultoria de pesquisa Aidenvironment, mostraram que mais de 12 mil incêndios e 800km2 de desmatamento foram registrados em terras usadas ou pertencentes a fornecedores de soja da Cargill no Cerrado. A investigação apontou que a empresa compra de pelo menos nove produtores envolvidos em desmatamentos recentes no bioma.

“A combinação de uma proteção mínima do Cerrado – um sumidouro de carbono de importância global e habitat de vida selvagem – com uma cadeia de suprimentos obscura e sistemas de rotulagem confusos significa que os consumidores podem estar, inadvertidamente, contribuindo com a destruição [do bioma]”, indicou a investigação.

Eliminação do rastro de desmatamento

As descobertas surgem no momento em que o Reino Unido avalia ações para conter o desmatamento ilegal a nível global, podendo proibir a importação de alimentos vinculados à destruição ambiental. Cada dia mais compradores condicionam a compra de commodities à execução de compromissos com o meio ambiente, pois não querem sua imagem atrelada a atividades predatórias.

Sete grandes redes de supermercados franceses, incluindo o Carrefour, anunciaram a inserção decláusulas mais rígidas para a soja produzida pelo Brasil a partir de 2021. Entre 2008 e 2018, aproximadamente 2 milhões de toneladas da soja cultivada ilegalmente no Brasil podem ter tido como destino os mercados europeus, de acordo com estudo desenvolvido por pesquisadores do Brasil, Alemanha e Estados Unidos.

Para o locutor e ativista Chris Packham, as revelações mostram o quanto os consumidores precisam receber mais informações sobre seus alimentos. “A maioria das pessoas ficaria incrédula ao pensar que está comprando um pedaço de frango na Tesco, que foi alimentado com uma plantação responsável por uma das maiores destruições de florestas tropicais nos últimos tempos”, disse ao TBIJ.

Os varejistas já estão reagindo às informações reveladas pelo Escritório de Jornalismo Investigativo. Ao Guardian, o McDonald’s do Reino Unido afirmou que pretende acabar com o rastro de desmatamento de suas cadeias de abastecimento globais até 2030. A Tesco deseja que sua soja venha de áreas comprovadamente livres de desmatamento até 2025.

Embora não tenha estipulado uma data para eliminar o desmatamento de suas cadeias, o Nando’s afirmou que pesquisa alternativas de alimentação mais sustentáveis. Asda e Lidl disseram que pretendem comprar apenas soja sustentável “certificada fisicamente” até 2025.

Todos apoiaram a execução de um novo acordo, como a moratória na Amazônia, para conter o desmatamento no Brasil. A Cargill, apesar de ter se comprometido a acabar, até 2020, com o desmatamento em suas cadeias de abastecimento de commodities essenciais – como a soja – admitiu que não alcançaria a meta e se opôs à moratória da soja no Cerrado.

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