Notícias

Estudo revela presença de plástico em peixes da Amazônia

Estudo revela presença de plástico em peixes da Amazônia
Jacundá (crenicichla regani) concentrou maior número de plástico no organismo/Crédito: Labeco/UFPA

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) encontraram partículas plásticas no estômago de 98% dos peixes coletados nas nascente e riachos da Amazônia. Ao todo, 14 espécies foram analisadas em 12 pontos da bacia amazônica. As descobertas foram publicadas na revista científica Environmental Pollution.

O grupo de pesquisa, do Laboratório de Ecologia e Conservação (Labeco), da UFPA, localizou 383 partículas plásticas em 67 dos 68 peixes examinados, uma média de seis fragmentos por indivíduo. Do total, 201 pedaços foram encontrados no trato gastrointestisnal e 182 nas brânquias dos animais, também chamadas de guelras (órgão respiratório dos peixes e outros animais aquáticos).

Os dados são mais um indício da poluição por plástico na bacia Amazônica, que já foi denunciada por outros pesquisadores da UFPA em estudo publicado em 2019. Ao analisar o conteúdo estomacal dos animais, o primeiro grupo encontrou restos de garrafas, sacolas e até equipamentos de pesca em peixes da bacia do rio Xingu.

Desta vez, os pesquisadores também encontraram detritos de inúmeras fontes nos corpos dos peixes. Mais de 90% eram fibras de roupas, pneus, tintas, escovas de dente e diversos materiais. Com tamanho semelhante a partículas de comida, os animais confundem fragmentos de plástico com alimentos de sua dieta.

Acredita-se que a principal fonte poluidora seja os dejetos descartados por ribeirinhos da bacia do rio Guamá, em Barcarena (PA), e da bacia do Acará-Capim, nos municípios de Ipixuna do Pará, Concórdia do Pará e Tomé Açu. Eles utilizam as nascentes para o lazer e também para o descarte de dejetos, visto que não possuem tratamento de esgoto.

O lixo descartado em toda bacia Amazônica também contribui para o acúmulo de plástico no organismo dos peixes. Estimativas recentes indicam que a quantidade de resíduos que o rio Amazonas despeja no oceano Atlântico chega a 60 mil toneladas por ano. Muitos produtos de plástico, ao serem descartados na natureza, se fragmentam em micropartículas que, pela espessura ultrafina, escorrem facilmente pelos ralos e acabam nos cursos d’água.

Os pesquisadores destacaram que a ingestão de plástico interfere na reprodução e pode levar até a morte dos peixes, causando desequilíbrio na cadeia alimentar. Danielle Ribeiro-Brasil, uma das autoras do artigo, destacou a importância que cada uma das espécies desempenha e como sua ausência pode causar colapso no ecossistema local.

“Sem a presença, no futuro, de uma dessas espécies que consomem larvas de insetos, por exemplo, poderia haver a explosão de uma população de mosquitos e o espalhamento desenfreado de doenças”, disse à BBC.

Para reverter esse cenário, os especialistas defenderam a redução do consumo de plásticos de uso único, como os canudinhos, e o envolvimento da sociedade na preservação dos ambientes naturais.

“As ações para evitar o aumento da contaminação por plástico da bacia Amazônica demandam o envolvimento da população local, iniciativas de educação ambiental de manejo dos resíduos sólidos e o engajamento de instituições públicas e privadas, entre outros pontos”, salientaram.