Microplásticos liberados durante lavagem de roupas estão até em geleiras polares
Pesquisas indicam a presença de fibras sintéticas, resultado da lavagem de roupas, em todos os continentes, chegando até mesmo em zonas remotas como geleiras polares. A contaminação das águas por microplásticos é um alerta para animais marinhos e também para a saúde humana.
Há sete anos estudiosos da área ambiental e têxtil investigam os processos que liberam pequenas fibras sintéticas no ambiente. Segundo a engenheira têxtil Flavia Cesa, materiais plásticos dominam 60% da indústria por serem mais baratos e mais fáceis de trabalhar. Com os baixos preços, as ofertas em lojas fast fashion (como as de departamento) incentivam o consumo de novas peças, que tendem a liberar mais partículas a cada lavagem.
As fibras sintéticas têm menos de cinco milímetros de comprimento e são tão pequenas que seu diâmetro é medido em micrômetros, o equivalente a um milímetro dividido em mil. Um dos estudos pioneiros da área analisou amostras de 18 praias em seis continentes e traçou o “caminho de volta” das fibras inferiores a um milímetro. Ao perceber que as fibras estavam concentradas no esgoto, a pesquisa sugeriu que as fibras eram oriundas da lavagem. A hipótese foi comprovada por experimento: a lavagem de apenas uma peça de roupa liberou mais de 1.900 pedaços de fibras na água, passando livremente pelos filtros. Em outra pesquisa, publicada em 2016 pelo “Marine Pollution Bulletin”, estimou-se que em cada lavagem em uma máquina pequena, de 6 kg, mais de 700 mil fibras podem ser liberadas no ambiente.
Para Cesa, a maior parte das lavagens ocorre mais por hábito que de fato pela sujeira. De acordo com Renan Serrano, empresário e pesquisador na área têxtil, “nos EUA o norte-americano lava a roupa uma vez por semana; já o brasileiro lava entre três a quatro vezes, em média”. Ele reforçou que a lavagem desgasta a roupa: “Há atrito, a cor desbota e o fio enfraquece, porque vai soltando as fibras. Isso sem falar que, toda vez que se liga a lavadora, ao menos 100 litros de água são contaminados com produtos químicos”, afirmou.
Despejados sem tratamento na água, os microplásticos são uma ameaça aos animais marinhos, que confundem as fibras sintéticas com alimentos, como o plâncton. Elas podem causar obstrução no trato gastrointestinal e, em alguns casos, problemas de reprodução. O problema também chega ao ser humano, afinal, esses resíduos estão na água e na cadeia alimentar.
Dicas para reduzir a liberação de fibras sintéticas:
– Para tecidos mais resistentes, deixar a sujeira secar e escová-la;
– Congelar a calça jeans em um saco plástico para reduzir odores;
– Passar um “desodorante” nas roupas antes de vesti-las;
– Lavar as peças sintéticas dentro de sacos feitos com nanofiltros;
– Reduzir o consumo de sintéticos e valorizar fibras naturais.
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