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Mudanças climáticas podem impactar áreas protegidas brasileiras

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Mudanças climáticas podem impactar áreas protegidas brasileiras
Crédito: Ministério do Meio Ambiente

Uma parcela considerável das áreas protegidas do Brasil está vulnerável ou altamente suscetível às mudanças climáticas em curso no planeta. O alerta é de estudo desenvolvido por Fernanda Sueko Ogawa, bolsista da Fapesp. Esta é a primeira análise dos impactos das alterações do clima focada em unidades de conservação. O estudo foi publicado no periódico Conservation Biology.

A pesquisa avaliou 993 áreas protegidas em todo o território nacional, com mais de 50 quilômetros quadrados, incluindo parques nacionais, estações ecológicas, reservas de desenvolvimento sustentável e terras indígenas demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Os pesquisadores estimaram a resiliência dessas unidades e compararam os resultados com a mudança climática projetada para elas, com base em indicadores fornecidos por instituições governamentais e estudos anteriores.

Entre as 993 unidades de conservação analisadas, 258 foram classificadas como de “vulnerabilidade média” e 17 como “altamente suscetíveis” às mudanças. Dentre as 17, sete estão na Mata Atlântica, seis no Cerrado e quatro na Amazônia, cobrindo 20.611 km². O estudo alerta que, ao todo, mais de 750.000 km² de áreas de vegetação nativa podem estar em risco nas próximas décadas.

Das reservas classificadas na pesquisa como alta ou medianamente vulneráveis, mais de 80% são terras indígenas. “Esse é um ponto especial de atenção, pois há pouquíssimas discussões sobre o manejo e adaptação dessas populações frente às mudanças do clima, de modo que elas e seu modo de vida continuem existindo”, disse David Montenegro Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do estudo.

Estratégias

Baseadas na vulnerabilidade de cada unidade de conservação, o estudo propõe quatro estratégias de adaptação às mudanças climáticas. Para aquelas em menor risco, pouca ou nenhuma intervenção seria necessária, mas a pesquisa indica que é importante cuidar da manutenção para que atuem como uma espécie de “reservatório” e auxiliem na restauração dos arredores e de áreas protegidas vizinhas.

Na faixa mediana, o monitoramento e as ações de preservação devem ser o foco. Já para regiões mais vulneráveis, a sugestão da pesquisa é que as intervenções sejam mais incisivas, como o deslocamento de espécies, reflorestamento da vegetação original e ações de manejo de populações tradicionais – decisões a serem tomadas em casos mais extremos de risco à biodiversidade.

Lapola ressalta que um ponto fundamental para proteger os biomas brasileiros é a conectividade entre as reservas. “O ideal é ter corredores de áreas protegidas, onde um núcleo se conecta com outro. Isso oferece uma proteção maior e expande o habitat das espécies. Por exemplo, um sapo que vive entre 20°C e 25°C e se movimenta rápido, vai querer se mudar caso sinta a temperatura aumentando, mas não terá outro ambiente de floresta próximo para ir se a área protegida que compreende seu habitat for pequena e pouco conectada”, explicou.

Os autores destacam que é urgente responder a demandas que ameaçam as áreas preservadas atualmente, como discussões sobre posse de terras, ocupação ilegal, desmatamento, incêndios, ausência de profissionais envolvidos e de recursos para a manutenção dessas regiões. “Ainda há muito que estudar, mas o trabalho chama a atenção para a necessidade de incluir as mudanças climáticas no planejamento governamental para essas áreas. Acima de tudo, é preciso aumentar a conscientização sobre a importância das áreas protegidas em um futuro de clima incerto”, afirmou o biólogo Carlos Joly, coordenador do Programa Biota-Fapesp e coautor do estudo.