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Seminário aborda o reaproveitamento de rejeitos da mineração

Seminário aborda o reaproveitamento de rejeitos da mineração
Evento no auditório do BDMG contou com representantes do poder público

Mudar o conceito atual que trata o rejeito da mineração como algo sem valor e tratá-lo como um produto com status econômico, cobiçado por outros setores da economia, a exemplo da engenharia, arquitetura e construção civil. Essa foi a proposta do seminário Reaproveitamento de Rejeitos de Mineração e Economia Circular, promovido pela Semad e Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) no início desta semana.

Na abertura do evento, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, afirmou que a ideia é cada vez mais fomentar o conceito de mineração sustentável, inovando para que o setor tenha alternativas e estreite as relações com o setor da construção civil, por exemplo, para que eles possam aproveitar o rejeito em produtos e subprodutos na fabricação de imóveis, pisos e asfaltamento de estradas. “As cadeias produtivas devem se juntar num conceito de economia circular, dando condições que o rejeito produzido pelas empresas de mineração possa ser reaproveitado de outras formas”, afirmou.

Ainda na solenidade de abertura, o presidente do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), José Fernando Coura, lembrou que atualmente são aproveitados 85% do rejeito do minério de ferro. “É uma oportunidade de envolver sindicatos da construção civil e aproveitar escória, pó de balão, finos de carvão e do minério de ferro e aproveitar 100% dos rejeitos da indústria siderúrgica”, afirmou.

Já o presidente da Feam, Eduardo Pedercini Reis, destacou que o seminário coloca em pauta o tema do compartilhamento da mineração e da economia circular. “Como órgão governamental responsável pela gestão dos rejeitos, a Feam compartilha experiências que foram e serão importantes para a sustentabilidade”, observou.

Gestão

Diretor de Resíduos da Feam, Renato Brandão destacou o trabalho que a instituição realiza, desde 2002, na gestão das barragens localizadas em Minas. A Fundação recebe as informações dos empreendedores, com dados sobre altura das barragens, volume e ocupação humana à jusante, por exemplo. “As barragens são classificadas como de alto, médio ou baixo potencial de dano ambiental e os empreendimentos têm de realizar auditorias periódicas em seus reservatórios”, explicou. Em 2017, os técnicos da Feam realizaram fiscalizações em 275 barragens e, em 2018, em 311.

Os dados do Inventário de Resíduos da Mineração apontam cerca de 289 milhões de toneladas de resíduos gerados, dos quais 94,58% são destinados para as barragens e 2,87% para as pilhas de rejeitos e somente 0,003%, ou cerca de 9,9 mil toneladas, são reutilizadas. “O desafio é criar políticas que incentivem a reutilização desse universo”, afirma.

Brandão lembrou que entre as ações que o governo já propôs está a definição de critérios para o aproveitamento de cavas de minas não utilizadas para a disposição de rejeitos. Outra iniciativa é o estímulo econômico para empresas que realizassem o reaproveitamento dos materiais existentes em barragens e pilhas, já previsto em lei e com implementação prática para o início do ano que vem.

Desafios

Segundo o geólogo e analista de infraestrutura do Ministério de Minas e Energia, Erin Sebastião Mendes, o Governo Federal atualmente encara o desafio de transformar os resíduos sólidos em ativos minerais. Entre as várias frentes de trabalho está a elaboração do diagnóstico e caracterização de resíduos do processo de lavra e rejeitos na região Centro-Oeste. “Também está em andamento o reaproveitamento dos resíduos de uma série de minerais, entre eles o lithium”, disse. Esse último é feito em conjunto com a União Europeia.

O diretor de Fiscalização da Agência Nacional de Mineração (ANM), antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Walter Lins Arcoverde, afirmou que o Brasil, atualmente, possui 10.640 concessões para produção mineral e 5.040 títulos de lavra. “Somos o 3º país com maior produção, mas temos uma pequena pesquisa na área e temos um grande desafio que é o transformar os resíduos em ativo”, destacou. Para Arcoverde, é importante identificar e envolver todos os atores nessa mudança de paradigma que é a forma como se vê o rejeito. “É necessário eliminar os problemas de segurança nessa transição”, afirmou.

Fazendo dupla com o especialista da ANM, o professor do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Evandro Moraes Gama, apresentou alguns dos resultados do estudo desenvolvido pela instituição para destinação de materiais para o setor da construção civil. Ele destaca os aproveitamentos imediatos com argila e areia na produção de cerâmicas, telhas e na base e para pavimentação de estradas. “O setor da pavimentação é o que possui maior potencial de aproveitamento, seguido da produção de cimento. É inevitável já considerar as barragens como depósito temporário de produtos”, afirmou.

No segundo dia de seminário os participantes conheceram aspectos do trabalho que vem sendo desenvolvido na China, país que mais tem avançado no reaproveitamento de resíduos da atividade de produção minerária. O consultor George Liu apresentou o conceito de economia circular aplicado aos rejeitos. A proposta envolve um conceito mais amplo, com planejamento minucioso, no qual o Estado tem o papel de estimular a economia circular. “O país gastou tempo e esforço diagnosticando e medindo o tamanho do problema e desenvolveu indicadores para medir o volume dos descartes das minas chinesas”, explicou Liu.

De acordo com ele, na maioria dos países o tripé adotado é o “take, make and dispose” (retirar, transformar e depositar), segundo o qual retira-se da natureza, transforma-se a matéria prima e abandona-se o rejeito, descartando-o. Foram produzidos 2,3 bilhões de toneladas de rejeitos em 2015, nos locais de extração dos 20 principais minerais do país.

Fonte: Semad