Brasil lidera, de novo, ranking mundial de mortes de ambientalistas
Mais uma vez o Brasil lidera o ranking de mortes de ambientalistas. Entre os 207 assassinatos do ano passado – novo recorde -, 57 aconteceram no país, oito a mais que em 2016. Segundo a Global Witness, 2017 foi o ano mais violento desde que o estudo começou, em 2002, com média de quatro mortes por semana.
Desde o início dos levantamentos o Brasil é campeão. Para a Global Witness, o país tornou-se o mais perigoso para atuar como defensor da terra e do meio ambiente. “Infelizmente, o Brasil sempre esteve no topo da lista. Se olharmos para as estatísticas per capita, o país está geralmente entre os cinco primeiros. Não há dúvida de que o país é um dos países mais perigosos do mundo para defender o meio ambiente, a terra e especialmente a região amazônica”, afirmou Ben Leather, um dos autores do estudo.
O levantamento aponta que o “agronegócio foi a indústria mais sangrenta”, com pelo menos 46 assassinatos no mundo ligados ao setor, comparado aos 23 registrados no último ano. Segundo o estudo, o aumento da violência envolvendo o agronegócio, especialmente no Brasil, se deve ao “poderoso lobby” que utiliza seu poder político para aprovar ou mudar leis e enfraquecer a legislação existente.
“Vemos um aumento gradual da violência e ameaças contra defensores quando estes se opõem a projetos de agricultura em grande escala. E, no Brasil, o que ocorre é emblemático, pondo em rota de colisão o lobby e as comunidades locais que não querem que suas terras sejam engolidas pela agricultura de grande porte. Esta tem sido a tendência no Brasil, o que só aumenta os conflitos com as comunidades que querem defender seus direitos”, argumentou Leather.
A Global Witness critica a atuação da bancada ruralista no Congresso Nacional e seus laços com o presidente Michel Temer. Ao invés de tomar medidas para reprimir os ataques, os poderes legislativo e executivo têm atuado de forma a “enfraquecer as leis e instituições destinadas a proteger os direitos à terra e povos indígenas”, ao mesmo tempo que ambos têm “facilitado as grandes empresas a acelerar sua exploração de ecossistemas frágeis”.
Esta é a primeira vez que o agronegócio ultrapassa a mineração como setor mais associado a ataques. Os homicídios ligados à mineração aumentaram de 33 para 40 em relação ao ano passado, e as mortes associadas à exploração madeireira se mantiveram constantes, com 23 casos.
A ONG recomenda que os crimes contra defensores ambientais sejam “federalizados”, isto é, deixem de ser investigados no âmbito local e sejam transferidos para as mãos de promotores federais que, segundo a instituição, poderão garantir mais “imparcialidade, criar um ambiente mais seguro para as testemunhas e reduzir a impunidade”.