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Desmatamento encolhe peixes na Amazônia

Desmatamento encolhe peixes na Amazônia
Um dos peixes analisados na pesquisa / Crédito: Paulo Ilha

Espécies de peixes das cabeceiras do rio Xingu, no sudeste da Amazônia, estão perdendo massa corporal devido ao aumento da temperatura das águas, segundo estudo publicado no mês passado pela revista científica PLOs one. De acordo com pesquisadores, córregos desmatados apresentaram temperaturas até 6°C mais quentes e tiveram peixes, em média, 36% menores em comparação aos cursos d’água com vegetação preservada.

Dentre os riachos desmatados estavam aqueles convertidos em pastagem no início dos anos 80 e em soja, entre 2003 e 2008. Além das temperaturas mais altas, esses córregos eram mais profundos, apresentavam maior corrente elétrica e a cobertura de dossel (vegetação localizada no topo das árvores) era de apenas 10%, contra os 86% encontrados nos córregos com cobertura florestal.

Ao todo foram avaliadas 36 variedades de peixes que habitam as bacias dos rios Darro e Tanguro, afluentes do Xingu. As análises mostraram que em áreas agrícolas, as quatro espécies de peixes mais comuns perderam entre 43% e 55% de seu tamanho.

De acordo com o ecólogo Paulo Ilha, um dos autores do trabalho, a retirada da cobertura vegetal, seja para pastagem ou plantação de soja, facilita a erosão e o transporte de sedimentos para dentro dos rios, modifica características físico-químicas da água, a disponibilidade de alimento e abrigo para os animais aquáticos. A construção de barragens também contribui com o fenômeno.

O levantamento enfatiza que a mudança no tamanho do corpo pode afetar toda biologia de um organismo, incluindo a capacidade de suportar a escassez de alimentos, água e oxigênio; longevidade; aspectos reprodutivos; e até a capacidade de lidar com inimigos naturais e concorrentes.

Metodologia

O estudo foi dividido em duas etapas. A primeira foi realizada em campo, na Fazenda Tanguro, no município de Querência (MT). O local pertence ao projeto que leva o mesmo nome, liderado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Nesse estágio, os pesquisadores coletaram amostras de água dos riachos para comprovar a relação entre o desmatamento e o aumento da temperatura.

Já a segunda fase foi realizada no laboratório da Universidade de São Paulo (USP), onde foram criados peixes nativos em temperaturas análogas aos cursos d’água desmatados e florestais das cabeceiras do Xingu. O resultado foi que os peixes criados nos córregos florestados ganharam massa, enquanto aqueles criados nos cursos desflorestados perderam massa.