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Deputados federais recebem dinheiro de desmatadores para campanhas

Deputados federais recebem dinheiro de desmatadores para campanhas
Desmatamento em região próxima ao local onde os deputados decidiram reduzir a área de proteção

Receber doações legais para campanhas políticas não é crime, mas pode não ser “moral”. É o caso de doações de campanha feitas por pessoas ou empresas autuadas pelo Ibama por infrações ambientais. Levantamento feito pela ONG Repórter Brasil mostra que mais da metade dos deputados federais (249) eleitos para a atual legislatura recebeu financiamento de doadores autuados pelo Ibama por desmatarem e queimarem florestas. O total foi de R$ 58,9 milhões. Seis ministros também são citados, incluindo José Sarney Filho (PV-MA), do Meio Ambiente.

O valor inclui contribuições diretas e indiretas (quando o dinheiro passa pelo comitê ou diretório do partido). Com R$ 2 milhões doados por empresas que têm ficha suja no Ibama, a recordista da Casa é a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), que aguarda decisão judicial para assumir a pasta do Trabalho. Os doadores autuados são, no total, 92 empresas e 40 pessoas físicas. Os dados têm como fonte as declarações dos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral e lista publicada pelo Ibama em novembro de 2017. Os dados foram cruzados pelo Ruralômetro, ferramenta produzida pela Repórter Brasil que permite monitorar a atuação de cada deputado em áreas sensíveis ao meio ambiente, povos indígenas e trabalhadores rurais.

Seis atuais ministros do governo do presidente Michel Temer também estão na lista dos financiados por infratores ambientais. O Ministro do Meio Ambiente foi o que menos recebeu: R$ 35 mil. Por meio de sua assessoria, Sarney Filho afirmou que “as doações foram recebidas via Partido Verde. Se soubesse das irregularidades das empresas, não teria aceitado”.

Ricardo Barros (PP-PR), ministro da Saúde, recebeu R$ 627 mil; Mendonça Filho (DEM-PE), ministro da Educação, R$ 330 mil; Leonardo Picciani (PMDB-RJ), dos Esportes, R$ 399 mil; Marx Beltrão (PMDB-AL), do Turismo, R$ 300 mil; e Alexandre Baldy (Podemos-GO), das Cidades, R$ 60 mil.

Como as doações foram feitas de modo declarado, Emerson Cervi, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, observa que é mais difícil, embora necessário, monitorar se a ação do parlamentar está refém dos interesses dos financiadores. “Multado financiar não é ilegal. Agora, multado financiar e conseguir benefícios é imoral”, disse.