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Expansão do tucunaré ameaça espécies nativas do Pantanal

Expansão do tucunaré ameaça espécies nativas do Pantanal

Introduzido por acidente no Pantanal em 1982 após o rompimento de uma represa, o tucunaré se tornou uma ameaça aos peixes nativos. Com poucos predadores – peixes maiores, jacarés e ariranhas -, ele se tornou um predador de topo da cadeia alimentar.

Tucunarés são peixes de médio porte, podendo medir entre 30 centímetros e um metro e pesar entre 3 kg e 10 kg. A espécie que se alastrou pelo Pantanal é a Cichla cf. monoculus (Osteichthyes, Cichlidae). Extremamente voraz, ele devora peixes pequenos e grandes. “Qualquer peixe que passar em sua frente o tucunaré vai predar, desde que menor. Ele projeta a boca além da maxila. Quando fecha a boca, junto com a água, o peixe é sugado”, explica o professor adjunto da UFMS Fernando Rogério de Carvalho, graduado em ciências biológicas e pós-doutor em zoologia, com ênfase em ictiologia (estudo dos peixes).

Segundo Carvalho, os peixes pantaneiros não possuem essa novidade evolutiva. “Cada animal evolui em um lugar do planeta. As pessoas não entendem que cada organismo nasceu em um lugar, peixes, animais ou plantas. Dizer que o tucunaré é introduzido como apelo de pesca é um problema para o Pantanal. Ele pode eliminar outras espécies nativas”, afirma.

Pesquisadores alertam ainda que espécies exóticas podem introduzir novas doenças ao ambiente, além da hibridação com peixes nativos, alterando significativamente o habitat natural e causando um desastre ambiental de proporções inimagináveis.

Embrapa Pantanal não vê impactos negativos

O governo de Mato Grosso do Sul não possui um programa específico para monitoramento da espécie. Este trabalho ficou a cargo da Embrapa Pantanal, braço local da Embrapa, empresa de pesquisa do governo federal vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O último estudo especificamente sobre o tucunaré foi feito há 12 anos, em 2005. De acordo com relatório, desde 1992 o tucunaré tem sido pescado em outras regiões, deixando clara sua dispersão. Embora viva em baías (lagos), o peixe usa os rios para se deslocar.

Em nota, a Embrapa Pantanal informou que não houve relatos de impactos negativos no ecossistema pantaneiro causados especificamente pelo tucunaré que exigissem trabalhos imediatos por parte da equipe de pesquisa a respeito da espécie. A instituição considera como impactos negativos alterações sensíveis ao ambiente, como a diminuição drástica de determinadas espécies de peixes, por exemplo, que pudessem ter sido comprovadamente causadas pelo tucunaré.

Para Lígia Vial, assessora jurídica da Amda, é no mínimo uma grande irresponsabilidade da Embrapa Pantanal afirmar que não há consequências negativas da introdução do tucunaré na bacia do Pantanal. “É consenso entre especialistas do mundo inteiro os impactos desastrosos da introdução de espécies exóticas em habitats naturais. Essa postura nos parece refletir descaso na tratativa do assunto pelo órgão, ignorando estudos científicos muito bem embasados produzidos pela academia, os quais deveriam, inclusive, servir de subsidio para implantação de políticas públicas”, afirmou.

Com informações do UOL