Pesquisadores desmentem Temer sobre redução do desmatamento na Amazônia
Em seu discurso de abertura da 72ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (19), Michel Temer afirmou que houve redução de mais de 20% no desmatamento da Amazônia. A informação foi desmentida por pesquisadores do Imazon, instituto responsável pelas medições e citado pelo presidente como fonte.
À BBC Brasil, um dos pesquisadores do instituto disse que a informação apresentada a líderes mundiais por Temer é “imprecisa” e “inadequada”, e que políticas recentes do governo federal na realidade tenderiam a aumentar a destruição na Amazônia.
“Os dados que o Imazon mede mensalmente podem indicar uma tendência. Portanto, é possível que o desmatamento caia. Mas não podemos dizer 20% porque não temos a precisão que essa afirmação exige”, pontuou o engenheiro florestal Paulo Barreto, pesquisador associado ao instituto.
Segundo Barreto, os dados do governo ainda não foram divulgados. “Parece que o presidente está comparando dados oficiais do ano passado com os nossos, de agora, sendo que as metodologias são totalmente diferentes”, afirmou.
Ele aponta que uma eventual redução no desmatamento na Amazônia não seria fruto de políticas públicas para preservação do meio ambiente, como sugeriu o presidente. “O governo mandou projetos de lei para o Congresso para reduzir áreas de conservação. Nossos estudos mostram que as taxas dobram com reduções como esta”, disse.
Em seu discurso, Temer destacou ainda o “desenvolvimento sustentável” do país e ressaltou a “preocupação do governo com o desmatamento”. Ao citar a suposta “diminuição de mais de 20% no desmatamento da Amazônia”, o presidente afirmou que “nessa questão temos concentrado atenção e recursos”. “Na verdade, o governo está fazendo coisas que vão gerar aumento futuro no desmatamento”, comentou o pesquisador do Imazon.
A inclusão desses pontos no discurso da ONU, segundo fontes próximas ao presidente, seria uma estratégia para reverter a má impressão causada pela extinção da Reserva Nacional do Cobre e Derivados (Renca) e pelos cortes no financiamento de países como Dinamarca e Alemanha ao Fundo Amazônia, dedicado a financiar a preservação da floresta.