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“Pães de açúcar” do Vale do Jequitinhonha podem ser legalmente protegidos pelo Parque da Pedra Misteriosa

“Pães de açúcar” do Vale do Jequitinhonha podem ser legalmente protegidos pelo Parque da Pedra Misteriosa
Crédito: Verde Java

Um dos mais impressionantes conjuntos de montanhas graníticas de Minas Gerais e, por extensão, de todo o país, é o chamado “plúton granítico” (termo geológico) dos municípios de Jacinto e Rubim, no Vale do Jequitinhonha. Cerca de 150 “pães de açúcar” erguem-se na paisagem dominada por resquícios de Mata Atlântica. Desmatamento, atividades agropecuárias, incêndios e mineração de granito ornamental são ameaças constantes a este patrimônio natural.

Porém, projeto de lei do deputado Jean Freire, já em tramitação na ALMG, propõe criar o Parque Estadual da Pedra Misteriosa, com 18.000 hectares. Na justificativa, o parlamentar lembra que a área prevista para o parque é considerada um importante ecótono, resultante da transição entre três biomas: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, cujos resquícios abrigam espécies vegetais praticamente extintas da região, como o jacarandá caviúna, árvore que produz uma das madeiras mais lindas do Brasil e que foi explorada quase à exaustão.

No que se refere à fauna, o parque será responsável peja preservação de inúmeras espécies raras e ameaçadas, que ainda encontram abrigo nos esconderijos entre as montanhas. A área possui uma paisagem rochosa com ocupação humana extremamente rarefeita, criatórios de gado desprezíveis e pouco econômicos, e seu entorno está bastante degradado pela pecuária extensiva, caça e incêndios. Já foram detectadas no local diversas espécies ameaçadas, como onça pintada, muriqui (o maior primata das Américas, em situação crítica), porcos do mato e antas. A justificativa ressalta ainda a proteção de inúmeras nascentes, numa região incluída no semiárido mineiro, com destaque para os rios Jacinto e Rubim das Pedras.

Sítios arqueológicos, muitos deles com pinturas rupestres, com destaque para o da Pedra do Salão, tradicional lugar de caminhadas em Rubim e que vem sofrendo depredações devido à visitação desordenada, fazem parte da justificativa. O deputado também cita o estímulo ao turismo e o fato de que a área é praticamente desabitada, pois a topografia é inapropriada para criação de gado devido a fendas e abismos nas rochas, que provocam a perda de várias cabeças de gado por ano.

“Em suma, o que se propõe com a criação do Parque Estadual da Pedra Misteriosa é a substituição de uma atividade econômica predatória, tal como é lá praticada, de baixíssimo retorno econômico e que emprega muito pouco (um único vaqueiro é capaz, às vezes, de cuidar de uma grande fazenda, por outra atividade capaz de gerar não apenas muito mais e melhores empregos, mas, também, de oferecer variadas oportunidades para pequenos negócios locais – sem falar no staff do próprio parque, por menor que seja”, pontua a justificativa.

Dalce Ricas, superintendente da Amda, lembra que Minas Gerais tem menos de 2% de seu território protegido por unidades de conservação de proteção integral, percentual muito aquém do necessário para que não se perda grande parte da biodiversidade no estado. A entidade apoia e lutará por sua criação. A perda de Mata Atlântica em Minas é expressiva no Vale do Jequitinhonha, conforme o Atlas da Mata Atlântica publicado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A iniciativa de criação do parque partiu de montanhistas e ambientalistas que conhecem a região, como Tonico Magalhães e Gustavo Pedro de Paula. Mas as pressões contrárias já se manifestam, alegando os velhos e gastos argumentos de que as atividades econômicas serão prejudicadas. Nos dias 9 e 10 de junho serão realizadas audiências públicas sobre o PL, previstas na Lei do Snuc. A ALMG está fazendo uma enquete virtual sobre a criação do parque. Junte-se a nós na luta para criação do parque! Vote a favor do projeto no canto direito da sua tela.