“Pães de açúcar” do Vale do Jequitinhonha podem ser legalmente protegidos pelo Parque da Pedra Misteriosa
31 de maio de 2017
Crédito: Verde Java
Um dos mais impressionantes conjuntos de montanhas graníticas de Minas Gerais e, por extensão, de todo o país, é o chamado “plúton granítico” (termo geológico) dos municípios de Jacinto e Rubim, no Vale do Jequitinhonha. Cerca de 150 “pães de açúcar” erguem-se na paisagem dominada por resquícios de Mata Atlântica. Desmatamento, atividades agropecuárias, incêndios e mineração de granito ornamental são ameaças constantes a este patrimônio natural.
Porém, projeto de lei do deputado Jean Freire, já em tramitação na ALMG, propõe criar o Parque Estadual da Pedra Misteriosa, com 18.000 hectares. Na justificativa, o parlamentar lembra que a área prevista para o parque é considerada um importante ecótono, resultante da transição entre três biomas: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, cujos resquícios abrigam espécies vegetais praticamente extintas da região, como o jacarandá caviúna, árvore que produz uma das madeiras mais lindas do Brasil e que foi explorada quase à exaustão.
No que se refere à fauna, o parque será responsável peja preservação de inúmeras espécies raras e ameaçadas, que ainda encontram abrigo nos esconderijos entre as montanhas. A área possui uma paisagem rochosa com ocupação humana extremamente rarefeita, criatórios de gado desprezíveis e pouco econômicos, e seu entorno está bastante degradado pela pecuária extensiva, caça e incêndios. Já foram detectadas no local diversas espécies ameaçadas, como onça pintada, muriqui (o maior primata das Américas, em situação crítica), porcos do mato e antas. A justificativa ressalta ainda a proteção de inúmeras nascentes, numa região incluída no semiárido mineiro, com destaque para os rios Jacinto e Rubim das Pedras.
Sítios arqueológicos, muitos deles com pinturas rupestres, com destaque para o da Pedra do Salão, tradicional lugar de caminhadas em Rubim e que vem sofrendo depredações devido à visitação desordenada, fazem parte da justificativa. O deputado também cita o estímulo ao turismo e o fato de que a área é praticamente desabitada, pois a topografia é inapropriada para criação de gado devido a fendas e abismos nas rochas, que provocam a perda de várias cabeças de gado por ano.
“Em suma, o que se propõe com a criação do Parque Estadual da Pedra Misteriosa é a substituição de uma atividade econômica predatória, tal como é lá praticada, de baixíssimo retorno econômico e que emprega muito pouco (um único vaqueiro é capaz, às vezes, de cuidar de uma grande fazenda, por outra atividade capaz de gerar não apenas muito mais e melhores empregos, mas, também, de oferecer variadas oportunidades para pequenos negócios locais – sem falar no staff do próprio parque, por menor que seja”, pontua a justificativa.
Dalce Ricas, superintendente da Amda, lembra que Minas Gerais tem menos de 2% de seu território protegido por unidades de conservação de proteção integral, percentual muito aquém do necessário para que não se perda grande parte da biodiversidade no estado. A entidade apoia e lutará por sua criação. A perda de Mata Atlântica em Minas é expressiva no Vale do Jequitinhonha, conforme o Atlas da Mata Atlântica publicado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A iniciativa de criação do parque partiu de montanhistas e ambientalistas que conhecem a região, como Tonico Magalhães e Gustavo Pedro de Paula. Mas as pressões contrárias já se manifestam, alegando os velhos e gastos argumentos de que as atividades econômicas serão prejudicadas. Nos dias 9 e 10 de junho serão realizadas audiências públicas sobre o PL, previstas na Lei do Snuc. A ALMG está fazendo uma enquete virtual sobre a criação do parque. Junte-se a nós na luta para criação do parque! Vote a favor do projeto no canto direito da sua tela.