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Jornalistas acompanham caça aos maiores traficantes de animais silvestres do Brasil
Durante um mês, o programa Fantástico, produzido pela Rede Globo, acompanhou a caça pelos maiores traficantes de animais silvestres do país em sete estados e no Distrito Federal. A atividade ilegal movimenta cerca de R$ 9 bilhões por ano apenas no Brasil.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) possui uma lista com os 10 maiores traficantes brasileiros. Seis moram no nordeste, três no Rio Grande do Sul e um no Rio de Janeiro. Juntos, eles já foram flagrados 67 vezes com bichos que não poderiam ser retirados da natureza e devem cerca de R$ 24 milhões em multas.
A reportagem mostra uma operação conjunta entre Ibama e Polícia Rodoviária Federal (PRF) para descobrir se dois dos maiores traficantes deixaram de cometer crimes. Eles já foram detidos várias vezes, principalmente por traficar pássaros, alguns ameaçados de extinção.
Joseildo Manoel da Silva acumula multas no valor de R$ 4,413 milhões. Valdivino Honório de Jesus, de R$ 9,116 milhões. Segundo a reportagem, ambos nunca pagaram nenhum centavo. Juntos, eles já traficaram mais de 5.500 animais. Os dois estão na lista dos maiores traficantes do país.
A caçada começa na busca por Joseildo, que mora em Bezerros, Pernambuco. Detido cinco vezes pelo Ibama entre 2004 a 2013, ele foi flagrado, mais uma vez, vendendo animais silvestres.
Ao perceberem a chegada da polícia, vizinhos pularam o muro para tentar soltar os passarinhos. Um deles arremessou uma gaiola com um papagaio e o animal machucou a pata. Os agentes constataram que os vizinhos de Joseildo também vendem animais silvestres. Todos, claro, negaram o crime. Todas as gaiolas encontradas foram queimadas pelo Ibama.
Valdivino Honório de Jesus já foi detido 13 vezes por vender pássaros e iguanas entre 1996 até hoje. Na lista dos maiores traficantes do país, ele aparece em primeiro lugar. Na casa dele, em Patos, no sertão da Paraíba, os fiscais encontraram quatro pássaros que seriam vendidos e várias carcaças no congelador.
Em seu 14º flagrante, Valdivino foi levado para a delegacia e liberado pouco tempo depois. “Para ele, o crime compensa. Ele consegue lucrar e não é punido de uma forma que o prejudique”, comenta Gustavo França, da Polícia Rodoviária Federal/PB.
De acordo com a lei, o traficante deve ficar preso de seis meses a um ano e pagar multa de até R$ 5 mil para cada animal apreendido. Mas ninguém vai para a cadeia. Os infratores são apenas obrigados a doar cestas básicas ou prestar serviço comunitário. No que diz respeito às multas, há muito calote. Os traficantes não pagam nada e ainda têm pouca dor de cabeça por isso. No máximo, encontram dificuldades para conseguir empréstimos e tirar passaporte.
Segundo especialistas, por ano no Brasil, mais de 38 milhões de animais são capturados ilegalmente. “Basicamente, o tráfico de animais no Brasil é para abastecer a necessidade do brasileiro de criar animal silvestre como bicho de estimação. Só existe quem vende, porque tem quem compra”, afirma Dimas Marques, pesquisador de tráfico de animais da USP.
“As nossas matas estão ficando vazias e a população precisa começar a enxergar isso como crime”, pontua Roberto Cabral Borges, chefe nacional de fiscalização do Ibama. Seu sonho é ver a gaiola como peça de museu.
Atualmente, há sete projetos de lei no Congresso Nacional com o mesmo objetivo: punir os traficantes com mais rigor. Não existe previsão para votação.