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Projeções apontam secas mais intensas e longas no Nordeste

Projeções de clima sugerem que, daqui para frente, estiagens mais severas e prolongadas tenderão a ser regra. Um exemplo atual é a seca que vem se intensificando no Nordeste desde 2012. Ela já dura cinco anos e é considerada a mais severa em várias décadas. Essa intensidade e persistência podem ser indícios de que os extremos da variabilidade climática já começaram a cobrar sua fatura na região.

A conclusão é de estudo publicado recentemente, assinado pelos meteorologistas José Antonio Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden); Roger Rodrigues Torres, da Universidade Federal de Itajubá; e Lincoln Muniz Alves, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Eles basearam o estudo em projeções climáticas estimadas a partir da aplicação ao Nordeste dos modelos climáticos globais do 5º Relatório de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2014.

A seca é um fenômeno natural no Nordeste. Há relatos da sua incidência desde o século 16, ou seja, desde o início da colonização do país. Segundo Marengo, o sertão pode se tornar uma zona árida e favorecer um processo de desertificação na região.

A época de chuvas no Nordeste acontece entre os meses de março e maio. É nesse período que a precipitação fornece água para ser armazenada nas milhares de cisternas espalhadas pela região, água guardada pelos pequenos agricultores para os meses de estiagem.

Atualmente, durante os meses chuvosos, não chove todos os dias. Há intervalos sem precipitação que duram de cinco a seis dias. O que as projeções indicam é que, durante o período chuvoso, esses intervalos “secos” tenderão a ser mais numerosos e mais longos. No futuro, os “veranicos” poderão se estender por até 40 dias. Ou seja, a quantidade de precipitação nos meses chuvosos tenderá a ser menor do que a atual.

Os pesquisadores estimaram as alterações no índice de chuvas e nas temperaturas médias do Nordeste ao longo do século 20 até o final do século 21. O aquecimento vai aumentar. Na melhor das hipóteses, as projeções apontam para uma elevação nas temperaturas médias de outros 2 graus centígrados até 2040, o que poderia também estar acompanhado de períodos secos mais intensos e longos.

No pior dos cenários, o aumento das temperaturas prosseguirá até pelo menos o fim do século 21. Isso fará com que, em 2100, as temperaturas nordestinas sejam em média até 4,4 graus superiores às atuais. Nestas condições, se medidas governamentais sérias e imediatas não forem tomadas para, por exemplo, conter os desmatamentos, o sertão pode virar um grande deserto, alerta Marengo.

“Hoje só temos uma certeza, a de que no futuro os períodos de seca serão mais longos e mais quentes”, afirma.

Com informações do EcoDebate