Em sete décadas, mais de 20 milhões de animais foram mortos na Amazônia
Entre 1900 e 1970, cerca de 23 milhões de animais foram mortos na Amazônia. Os dados constam em estudo liderado por brasileiros que aponta, pela primeira vez, os impactos da caça comercial de bichos na região durante o século 20.
A pesquisa aponta como responsáveis pela matança a procura por animais para obtenção de couro e pele. Essa busca alcançou seu protagonismo em função da queda do primeiro ciclo da borracha, a partir de 1912, em que foi preciso substituir o material por outro impulsionador da economia na Amazônia. Nos anos 50, a moda internacional tinha como produto ostentação os casacos de pele, o que incentivou a caça de peles de felinos.
Segundo o estudo, os impactos da caça levaram ao colapso as populações de algumas espécies aquáticas, como a ariranha, o peixe-boi e o jacaré-açu. Já os animais terrestres, embora tenham sido alvo da caça, sofreram menos impactos e muitas espécies sobreviveram à carnificina.
Os pesquisadores alertam, entretanto, que os fatores que deram às espécies terrestres uma alta capacidade de recuperação, mesmo no apogeu da caça, tendem a entrar em colapso quando a floresta é desmatada ou fragmentada, principalmente pela construção de estradas.
A pesquisa é assinada por André Antunes, da Sociedade para Conservação da Vida Selvagem (WCS), e Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido). O trabalho também contou com a participação de outros estudiosos do Brasil, dos EUA e da Nova Zelândia.
Para os pesquisadores, o estudo ajuda a repensar a caça de subsistência na Amazônia, que de certa forma flerta com a ilegalidade, e sobre a Lei de Fauna no Brasil que, segundo eles, é totalmente obsoleta no que diz respeito às abordagens modernas de manejo de espécies caçadas.