Notícias

Boto-cinza pode desaparecer em dez anos

Boto-cinza pode desaparecer em dez anos
Crédito: Ministério Público Federal

Considerada uma espécie ameaçada de extinção e com status de espécie vulnerável na Lista da Fauna Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção (Portaria MMA n.444 de 17/12/2014), o boto-cinza (Sotalia guianensis) pode desaparecer em 10 anos. Os cerca de 800 exemplares que ainda existem na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro – um dos locais que concentra a maior população da espécie do mundo – estão encurralados, de um lado, pelo desenvolvimento portuário, industrial e urbano e, do outro, pela pesca predatória que avança e acaba com os peixes dos quais eles se alimentam.

Como não têm o hábito de migrar, os animais dependem, exclusivamente, do equilíbrio do local onde vivem, e um dos grandes riscos para a sobrevivência do boto é a poluição. Com a chegada de grandes indústrias na região portuária da baía – cerca de 450 -, os animais sofrem com concentrações de metais pesados, que afetam seus sistemas imunológicos e hormonais, deixando-os mais suscetíveis a doenças.

O rápido crescimento da região também prejudica os botos. A baía, que tem 536 Km², abriga três terminais portuários e um estaleiro da Marinha. Os empreendimentos têm direito às chamadas áreas de exclusão, locais onde a atividade pesqueira é proibida. Com isso, os pescadores artesanais são empurrados para a área que os animais costumam habitar. Em alguns casos, o boto fica preso nas redes de emalhe e não consegue subir à superfície para respirar, quando não se machuca em equipamentos, como anzóis.

Além de tudo isso, o boto-cinza ainda precisa disputar comida com os grandes barcos ilegais que cometem pesca predatória na região. Os grandes pesqueiros buscam peixes que integram a cadeia alimentar dos golfinhos, que acabam morrendo por desnutrição. A pesca ilegal também não respeita o período de defeso – quando a pesca é proibida – dos peixes consumidos pelo boto.

Somente neste ano, 34 carcaças foram recolhidas na baía de Sepetiba, índice quatro vezes superior ao número máximo de mortes por causas não naturais aceitável por ano. Nos últimos três anos, foram contabilizadas 170 mortes somente no RJ.

O Ministério Público Federal (MPF) está promovendo a campanha Salve o Boto – Não deixe o boto virar cinzas, em parceria com a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e o Instituto Boto Cinza. A campanha estimula o uso da hashtag #SalveoBoto com objetivo de mobilizar internautas e organizações a darem visibilidade ao risco de extinção deste animal emblemático, símbolo do município do Rio de Janeiro.

Proteção

Dentre as tentativas para reverter esse quadro de possível extinção, especialistas e ambientalistas ressaltam a fiscalização efetiva da pesca ilegal e das atividades industriais e portuárias e o fortalecimento das unidades de conservação marinhas, como a Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, na Baía de Guanabara.Na Baía de Sepetiba, a Área de Proteção Ambiental Boto Cinza foi aprovada em abril de 2015, mas ainda não foi implantada.

Outras ações que podem ajudar a preservar os golfinhos são o aumento do saneamento dos municípios, educação ambiental e redução dos licenciamentos ambientais de empreendimentos industriais nessas baías.

Boto-cinza

Este pequeno cetáceo pode ser encontrado, no Brasil, desde o Pará até Santa Catarina. As Baías de Sepetiba e de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, são os locais de maior concentração da espécie no país. O boto-cinza gosta de ficar em áreas abrigadas, como enseadas e baías, especialmente próximas a manguezais.

Apesar de ser um dos menores golfinhos da família dos Delphinidae, a espécie pode alcançar até 2,2 metros e 90 kg. O dorso é cinza e duas bandas laterais mais claras. A barriga pode variar entre uma cor rosada até um cinza muito claro. O boto-cinza é rápido e chega a velocidade máxima de 30km/h. Alimenta-se de peixes, lula e camarão e pode viver entre 30 e 35 anos.

A gestação do boto-cinza dura quase um ano e os filhotes já nascem com cerca de um metro de comprimento. Após a gestação, o filhote é amamentado por pelo menos seis meses. Somando o tempo de amamentação ao da gestação, a mãe demora entre dois anos e meio a três para ter outro filhote. Esse grande intervalo entre uma gestação e outra é mais uma dificuldade para a preservação da espécie.

#SalveoBoto