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Proprietária conseguiu recuperar floresta nativa após dez anos em busca de apoio

Proprietária conseguiu recuperar floresta nativa após dez anos em busca de apoio
Osmarina

De acordo com a publicação “Estatísticas de Gênero – Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010”, lançada em 2014 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são responsáveis por quase 40% das famílias brasileiras, mas recebem cerca de 3/4 de rendimento médio se comparadas aos homens mesmo estudando mais. Em várias propriedades rurais, elas são responsáveis pela administração da casa e da terra.

Sabendo disso, a Iniciativa Verde inaugurou uma série de narrativas que vai mostrar algumas histórias inspiradoras de mulheres que transformam a vida no campo. E, principalmente, por meio da recuperação das nossas florestas ajudando a melhorar a qualidade de vida de toda a sociedade.

Conheça a história a história de Osmarina, que conseguiu recuperar floresta nativa após dez anos em busca de apoio:

“Por que você fez isso? Por que não plantou eucalipto?” Intrigados, conhecidos de Osmarina Donizete da Cunha Benedito, 52 anos, queriam entender a escolha dela em plantar árvores nativas de Mata Atlântica em quatro hectares no seu sítio em Joanópolis (SP), município localizado da Serra da Mantiqueira. A preocupação dela era preservar dez nascentes. Para isso, por uma década buscou ajuda financeira.

Osmarina nasceu no Sítio Santo Antônio, localizado na encosta de um vale. Ela herdou a terra do pai há 17 anos, que por sua vez, ficou com a área após o falecimento dos avós e bisavós. O local que recebeu as 6.664 árvores nativas pertencia a um dos irmãos da proprietária e ela uniu a sua área. “Troquei com ele por um lote que eu tinha na cidade. A maioria das nascentes está lá, meu medo era de que alguém estranho comprasse o local, plantasse eucalipto e acabasse com a água”, explica.

Um engenheiro apontou dez nascentes no sítio da Osmarina. “Com o tempo, percebi que estavam sumindo. Até que veio a estiagem de 2004 e sobraram apenas duas”, relata.

O solo começou a se degradar mais por conta da pastagem. Na região do sítio, quando ela era criança haviam florestas intactas e chácaras. “A floresta atrai a fauna e dá alimento para os bichos. No meio das árvores nativas plantadas, nascem outras espécies nativas”, explica Osmarina. Hoje, há muita braquiária (espécie de capim) e casas de veraneio na região.

“Sempre gostei de mata. Não tenho interesse em criar boi e nem em vender a terra. Quero preservar”, diz. “Já me chamaram de louca, mas as pessoas estão muito consumistas e materialistas. Só querem coisas que dão dinheiro como eucalipto. Antigamente, um vizinho ajudava o outro no cuidado da terra. Hoje em dia não se tem mais isso”, lembra.

“Tudo o que você encontra no mercado, embora esteja em embalagem bonitinha, vem da Zona Rural. Se alguém não trabalhar lá, não teremos o que comprar. O produtor rural deveria ter valor”, ressalta. “O pior é que ninguém mais quer plantar. E aí, vamos fazer como?”, completa.

Osmarina queria recuperar o sítio, mas não tinha condições financeiras. “Em 2005, comecei a entrar em contato com a Secretaria do Meio Ambiente da cidade, com a Casa da Agricultura, mas não tive esse apoio”, conta. Ela plantou as mudas que conseguia de doação, mas não eram suficientes e nem tinha adubo e outros recursos para cuidar dessas plantas. Osmarina participava com frequência de reuniões nessas e em outras instituições até que resolveu fazer um curso de pastagem ainda em busca de auxílio. Durante o curso, o professor pediu que os alunos escrevessem o porquê do interesse na aula.

“Anotei que cursava com o intuito de reflorestar o sítio. No final dele, o professor me chamou e disse que achou interessante. Passou o contato do Pedro Matarazzo, Da Serra Reflorestamento”, fala Osmarina. Na época, a Iniciativa Verde havia contatado a empresa especializada em recuperação florestal em busca de área para plantar árvores nativas.

A parceria entre a propriedade de Osmarina, a Da Serra Reflorestamento e a Iniciativa Verde deu certo. A Iniciativa Verde inscreveu a terra dela disponível para recuperação florestal na prateleira de projetos do Programa Nascentes, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Em seguida, a Concessionária Move São Paulo, responsável pela construção da Linha 6 – Laranja do Metrô, pagou a recomposição da área como compensação ambiental.

As árvores foram plantadas em 2015. Logo os resultados apareceram e surpreenderam a proprietária: “Nossa, como aumentou a água da nascente neste um ano. Já está até fazendo barulho. Tem uma bica de água!”, diz contente. Seu marido, que atualmente é pedreiro na prefeitura da cidade, ficou receoso quando há dez anos ela contou sobre sua intenção de recuperar a área. “Nós sempre concordamos em tudo, mas ele queria criar gado”, diz Osmarina. Ela argumentou que gado não compensa financeiramente se comparado ao esforço em se manter a criação. E ele concordou. Seu filho Jéferson, que trabalha em escritório, aprovou totalmente a ideia da mãe. “Para mim era importante ele apoiar. É meu único herdeiro e gosta de preservar”, alegra-se.

“Eu não plantei por obrigação, fiz por livre e espontânea vontade”, ressalta Osmarina. “Quem tiver intenção de reflorestar seu sítio, não desista. Tenha fé. Eu lutei dez anos e consegui”, completa. Para ela foi um sonho realizado. “E quando você vê concluído aquilo que você sonhou?”, finaliza.