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Costa brasileira tem recorde de mortes de baleias jubarte

Costa brasileira tem recorde de mortes de baleias jubarte
Técnicos analisam baleia jubarte encalhada em praia da Bahia / Crédito: Instituto Baleia Jubarte

Apenas no primeiro semestre deste ano, 23 baleias jubarte foram encontradas mortas na costa brasileira. O número é recorde e supera a média anual de casos desde 2002, quando começou o monitoramento do Instituto Baleia Jubarte. O maior registro, com seis casos, ocorreu em 2011, índice quase quatro vezes menor que no primeiro semestre de 2016.

O cenário tem intrigado estudiosos da espécie e as explicações não são unanimidade. As hipóteses passam pelas mudanças climáticas, pelo fenômeno El Niño, pela ação humana com as redes de pesca e até pelo fato de a população da espécie ter aumentado nos últimos anos.

“A maior parte dos encalhes acontece entre agosto e setembro, mas neste ano começou bem mais cedo e cremos que vai ser o pior dos últimos anos”, afirmou Milton Marcondes, coordenador de pesquisas do instituto.

Um dos piores casos monitorados ocorreu no início deste mês em Aracruz, no Espírito Santo. Uma baleia adulta foi encontrada morta, estrangulada no abdômen por uma possível corda de pesca.

Dos 23 casos registrados até junho, seis aconteceram em São Paulo. O estado contabilizava no máximo um por ano, quando isso ocorria.

Hipóteses

O crescimento da população de jubartes no país teve um ritmo elevado na última década. Eram 3.400 no início da pesquisa, em 2002, chegando a 17 mil atualmente.

“A população está aumentando, então os encalhes podem ser normais. Há uma influência nesse número que temos de analisar, como a pesca e os efeitos do El Niño”, disse Marcondes.

Já o fator climático pode ter afetado a oferta de alimentos. O efeito do El Niño, intenso desde o ano passado, pode ter afetado a disponibilidade do krill, um tipo de camarão pequeno que é a base da alimentação desses animais. Por isso, as baleias adiantam o período de migração e ficam mais fracas. Os encalhes mais comuns são de animais jovens, de até quatro anos.

Para o oceanógrafo Hugo Gallo, presidente do Instituto Argonauta, que monitora baleias no litoral norte, a pesca é um dos motivos mais prováveis para o fenômeno.

As redes de espera, usadas para pesca sem a presença dos pescadores, são as principais vilãs. A hipótese tem como base recentes proibições do governo de Santa Catarina, que limitou a pesca comercial da espécie no litoral do estado. “Está claro para mim que a mortandade é ligada à pesca. Temos uma grande quantidade de tainhas aqui. O pescador coloca mais rede, as baleias se enroscam mais”, afirma.

Uma das preocupações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é com as atividades da Petrobras na região do pré-sal, com o uso do método sísmico. São canhões de ar lançados ao solo oceânico que geram sons para detectar a existência de petróleo e gás.

Pesquisa encomendada pela organização Greenpeace confirma que a prática é bastante barulhenta: cada explosão emite 259 decibéis, um som aproximadamente oito vezes mais alto do que um avião a jato decolando. A investigação decorreu por um projeto da Shell para explorar petróleo na Groenlândia.


Com informações da Folha de São Paulo