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Filme pode aumentar captura ilegal de “Dorys”

O novo filme da Pixar, Procurando Dory, já é líder de bilheteria nos Estados Unidos e está traçando o mesmo caminho aqui no Brasil. Mas todo esse sucesso nas telonas pode prejudicar bastante a espécie na vida real. A ONG Saving Nemo, da Austrália, lançou uma campanha pela proteção dos peixes da espécie de Dory, o cirurgião-patela. Os ativistas preveem um aumento da captura ilegal do animal devido à estreia da continuação do filme nos cinemas.

De acordo com a ONG, mais de 90% de todas as espécies dos aquários marinhos são retiradas do meio natural – até 30 milhões de peixes são fornecidos a partir de 45 países do mundo e cerca de 65% deles são capturados na Indonésia e nas Filipinas. Os Estados Unidos são o maior importador de espécies ornamentais marinhas, representando 80% do mercado, seguido por Europa e Japão.

A organização foi criada por causa da onda sem precedente de compra de peixes-palhaços após o sucesso do primeiro filme da franquia – Procurando Nemo. Mais de um milhão de “Nemos” já foram capturados de recifes tropicais após o filme, segundo Craig Downs, do Laboratório Ambiental Haereticus da Virgínia, Estados Unidos, instituto de pesquisa que elaborou relatório junto com a For the Fishes.

Apesar do aumento da captura ilegal de peixes-palhaço, já existia a criação desses animais em cativeiro e, hoje, os exemplares que são encontrados à venda em lojas de aquarismo vêm praticamente todos desses criadores, o que tira a pressão sobre a natureza. Com a Dory, porém, a situação é bem diferente.

O cirugião-patela (Royal Blue Tang, em inglês) não é criado em cativeiro no momento. Por isso, caso seja visto para venda, terá sido capturado da vida marinha, alerta a ONG. Estima-se que 400.000 espécimes sejam retiradas do meio natural todos os anos para virar peixes de estimação.

“É uma situação complexa. Peixes ornamentais como os das espécies da Dory e do Nemo vivem em recifes de corais no litoral de países pobres do Pacífico, como Ilhas Cook, Filipinas, em que as populações são muito dependentes dos recursos marinhos. A coleta é feita quase sem controle, em alguns casos eles usam cianeto para pegar os peixes e vendem por preços baixos para grandes exportadores”, afirma Miguel Mies, pesquisador associado do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista no cultivo em cativeiro de espécies ornamentais.

Dory ainda não está em risco de extinção, mas Mies acredita que já esteja ocorrendo um aumento dessa coleta na natureza para atender a procura num ritmo maior do que seria considerado saudável para a espécie. “A espécie da Dory é de uma família de peixes mais complexos, cujo cultivo está longe de estar dominado. Ainda não se sabe como reproduzi-la em cativeiro”, relata o pesquisador.