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Degelo do Ártico está matando aves migratórias

Degelo do Ártico está matando aves migratórias
Crédito: Jan van de Kam

Um grupo internacional de biólogos descobriu uma surpreendente e alarmante conexão. O degelo cada vez mais precoce das neves no Ártico siberiano está matando milhares de aves na África e, possivelmente, em outros lugares, como o sul do Brasil.

Os cientistas acreditam que o aquecimento da Terra, que é mais acentuado no Ártico do que em outras regiões do planeta, esteja causando a redução do tamanho dos filhotes do maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus canutus). Esses animais menores não conseguem se alimentar direito durante a temporada de inverno nas praias da Mauritânia e acabam morrendo de fraqueza.

O holandês Jan Van Gils, do Instituto Real de Pesquisas do Mar, encontrou um paciente grupo de biólogos poloneses que captura, marca e mede maçaricos há 33 anos na baía de Gdansk, primeira parada das aves em sua migração anual. Van Gils identificou uma tendência negativa na base de dados: as aves estavam ficando menores e tinham também bicos mais curtos – até 10 milímetros a menos.

Então Van Gils ligou os pontos: e se a variação tivesse algo a ver com o clima? A resposta estava do outro lado do mundo: o holandês procurou Simeon Lisovski, um oceanógrafo alemão que trabalha com imagens de satélite na Universidade Deakin, na Austrália. Os registros de onde os maçaricos nascem, na Sibéria, mostraram que, em 30 anos, o derretimento da neve do inverno se adiantou em duas semanas.

Os maçaricos chocam seus ovos de modo a coincidir com a primavera polar, período em que o derretimento da neve causa uma explosão no número de insetos na região. Os bebês maçaricos, portanto, têm ao seu dispor, logo que nascem, um verdadeiro banquete. Mas com o degelo precoce, os ovos dos insetos eclodem antes do nascimento dos pintinhos. Estes ficam com menos comida disponível e, por conta disso, acabam não crescendo tanto.

Os jovens sentirão o impacto real da redução de tamanho apenas durante a migração. Na África, os maçaricos se alimentam de moluscos aquáticos que ficam enterrados na lama, a poucos centímetros da superfície. Aves de bico mais curto não conseguem comer essas presas e precisam recorrer a uma dieta mais pobre. O resultado é que cada vez menos maçaricos-de-papo-vermelho completam a jornada entre um ponto e outro a cada ano.

Os maçaricos-de-papo-vermelho de outra subespécie, a Calidris canutus rufa, também passam os invernos no Brasil, vindos do Ártico através dos Estados Unidos. A espécie também está em declínio aqui, embora não haja um estudo ligando-o ao aquecimento global.

“Eu realmente acho que o problema é disseminado entre as aves que se reproduzem no alto Ártico”, disse Van Gils. Seu grupo deve publicar em breve dados apontando a mesma tendência em outra espécie ártica, o fuselo.

Com informações do Observatório do Clima