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Enduro de motocross causa danos ambientais em Macacos

Enduro de motocross causa danos ambientais em Macacos
Crédito: PMMA

Moradores do condomínio Village Sans Souci, em São Sebastião das Águas Claras, mais conhecido como Macacos, na região metropolitana de Belo Horizonte, foram surpreendidos no último dia 17 por grande movimento de motoqueiros nas imediações. Eles participariam do Red Bull Minas Riders, evento de motocross promovido pela Red Bull. O condomínio foi incluído no percurso, que vai de Nova Lima a Ouro Preto, sem autorização dos moradores e dos órgãos ambientais competentes.

Segundo relatos de moradores, trilhas foram abertas nas áreas verdes do condomínio, com corte de árvores inclusive na mata ciliar do córrego local, que é Área de Preservação Permanente (APP). As trilhas onde os motoqueiros passariam foram demarcadas com fitas azuis e até uma tirolesa foi erguida. Além dos danos à vegetação nativa, o movimento e barulho das motos causam impacto ambiental grave sobre a fauna silvestre.

O enduro de motocross foi promovido pela Red Bull e organizado pela Quanta Sports. Na ocasião, os moradores entraram em contato com a Quanta. Segundo informações, a empresa alegou que tinha autorização do “dono do condomínio” para fazer o evento. Este, por sua vez, nega a autorização. Os moradores pediram a apresentação de autorização por escrito, mas nenhum documento apareceu.

A Polícia Militar foi acionada e foi feito boletim de ocorrência. O percurso dentro do condomínio foi cancelado e a tirolesa retirada. Apesar do cancelamento, algumas motos conseguiram entrar no condomínio e passar em alguns trechos das trilhas abertas. Isso foi possível graças a um “EnduroTour”, previsto na programação do evento, no qual as pessoas que estavam acompanhando as provas poderiam conhecer as trilhas.

O Instituto Estadual de Florestas (IEF) afirmou, por meio de sua assessoria, que “não autorizou a organização do evento Red Bull Minas Riders a abrir trilhas de motocross em áreas próximas à unidades de conservação Estação Ecológica Tripuí e à Floresta Estadual do Uaimií, em Ouro Preto.”

A região onde se localiza o condomínio é uma das mais afetadas ambientalmente pelas trilhas usadas por motoqueiros e carros off-road. Centenas de trilhas abertas ao longo dos anos pelos pneus das motos transformaram-se em erosões, fonte de sedimentos que assoreiam cursos d’água. Apesar de denúncias constantes, os órgãos ambientais nunca tomaram providências efetivas para resolver o problema.

A Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA) realizou uma fiscalização no condomínio e constatou abertura de picada para acesso das motos com 200 metros de comprimento por 1,20m de largura até as margens de um curso d’água onde foi aberto uma clareira de 6m². Na clareira, houve desmate de floresta nativa do bioma Mata Atlântica em estágio médio de regeneração, em área de preservação permanente. O boletim de ocorrência informa ainda que, no outro lado da margem do córrego, também houve danos ambientais. Apesar da constatação dos danos, o documento informa que não foi possível aplicar penalidade pela não localização de responsável.

No dia 20 de abril, alguns moradores se reuniram com a Quanta Sports e firmaram um acordo para a empresa recuperar os danos ambientais. Segundo relatos, a Quanta já está fazendo o replantio com mudas nativas, retirando as árvores caídas no córrego e fechando as trilhas com cercas.

“A recuperação da área pela empresa é uma boa notícia. Começando pela preocupação e ação dos moradores que se mobilizaram em relação ao assunto. A aquiescência da empresa também é positiva. Mas entendemos que o crime ambiental aconteceu e há punições previstas em lei que não podem ser descartadas. Principalmente para que não aconteça novamente. Esta não é a primeira vez que eventos desta natureza se julgam no direito de agir como querem”, afirma Dalce Ricas, superintendente executiva da Amda.

A organização enviou, nesta segunda-feira (9), ofício ao Major Juliano Jose Trant de Miranda, comandante da Companhia de Policiamento Ambiental da PMMA, solicitando novo boletim de ocorrência e uma segunda vistoria na área.