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Após quase cinco meses do desastre, lama ainda vaza da barragem em Mariana

Após quase cinco meses do desastre, lama ainda vaza da barragem em Mariana
Dique construído pela Samarco para tentar conter a lama que ainda vaza da barragem de Fundão / Crédito: Gutemberg Mascarenhas/ Ibama

Quase cinco meses após a ruptura da barragem de Fundão, em Mariana, a Samarco ainda não consegue, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), evitar que o rio Doce receba lama levada pelas chuvas, apesar de ter erguido diques de contenção.

A obra que deveria filtrar e devolver água cristalina ao ambiente não tem sido eficaz. Os resíduos que chegam aos rios Gualaxo do Norte e do Carmo – ambos deságuam no rio Doce – ainda são turvos devido à presença dos rejeitos de minério. O Ibama já notificou a mineradora 39 vezes desde a tragédia, a última ocorrida em 15 de janeiro.

Diques

Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, a empresa estudou a construção de quatro diques, dos quais três foram iniciados. Um deles caiu, voltou a ser erguido, mas acabou encoberto pela lama. Outro, pouco antes de Bento Rodrigues – destruído pelo tsunami de lama -, tem conseguido conter apenas parte dos rejeitos.

As obras da quarta barragem foram suspensas após constatação de que a estrutura para ela ocuparia um local de valor histórico.

Sobre a ineficácia dos diques, um dos coordenadores de emergência ambiental do Ibama, Marcelo Amorim, diz que os cálculos da Samarco subestimaram a quantidade de lama em período chuvoso.

Escutas telefônicas

O jornal teve acesso ao relatório das transcrições de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal. O material revela que, por meses, a Samarco não teve controle da fratura em sua unidade. A PF grampeou diretores da empresa por desconfiar que eles omitiam dados na investigação sobre as responsabilidades do maior desastre ambiental do país.

Conversas dos dias 16 e 17 de janeiro revelam que a lama ainda se deslocava naquele mês em ondas de três metros. Blocos de pedra usados na contenção não resistiam e desciam pelo terreno. As obras de reparo eram levadas pela força da lama.

“Estamos dando um passo para a frente e dois para trás”, relatou o funcionário identificado como Samuel em conversa com Wanderson Silvério Silva, coordenador de monitoramento da Samarco e alvo das escutas da polícia. Ele foi indiciado sob suspeita de crime ambiental e homicídio das 19 vítimas da ruptura da barragem.

O sistema de bombeamento operava, mas “não dava conta”, segundo Kleber Terra, diretor de operações, também indiciado, em outra conversa. Radares usados não captavam com antecedência os deslizamentos.

Em 16 de janeiro, devido ao alto risco de rupturas, a Samarco interrompeu obras de contenção, como mostram os grampos. No dia seguinte, a lama voltou a se movimentar.

No dia 27 do mesmo mês, outro vazamento de rejeitos obrigou a mineradora a suspender os trabalhos na barragem. De acordo com a Samarco, a movimentação da lama ficou restrita à área interna de Fundão.

Inquérito suspenso

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu o inquérito da Polícia Civil de Minas Gerais referente às apurações criminais do rompimento da barragem de Fundão. O inquérito pedia a prisão preventiva de sete acusados pelo desastre: da Samarco, Ricardo Vescovi, presidente licenciado da mineradora; Kléber Terra, diretor-geral de operações; Germano Lopes, gerente-geral de projetos; Wagner Alves, gerente de operações; Wanderson Silvério, coordenador técnico de planejamento e monitoramento; e Daviely Rodrigues, gerente-geral. E ainda o engenheiro Samuel Paes Loures, da empresa VogBR.

Em nota, conforme reportagem do jornal Estado de Minas, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) confirmou que, em 11 de março, o ministro do STJ Nefi Cordeiro encaminhou à juíza Marcela Oliveira Decat de Moura, de Mariana, decisão que suspende todos os processos e investigações criminais em trâmite naquela comarca, tratando de fatos relativos ao rompimento da barragem.

A liminar do STJ determina que todos os inquéritos fiquem suspensos até decisão final do conflito de competência, levantado pelo Ministério Público Federal (MPF), que está sendo apreciado por meio do processo nº 145695/MG. O conflito é em relação se o processo criminal será conduzido pela Justiça estadual ou federal.