Notícias

Animais em decomposição indicam falta de fiscalização na Serra do Cipó

Animais em decomposição indicam falta de fiscalização na Serra do Cipó
Na trilha localizada na Portaria do Retiro

A falta de fiscalização pode estar colocando em risco a fauna do Parque Nacional da Serra do Cipó. De acordo com denúncia recebida pela Amda, na trilha localizada na Portaria do Retiro, na Serra do Cipó, é comum a presença de animais em pastoreio. A ossada destes animais pode conter botulismo – doença bacteriana rara, que se ingerida, pode provocar a morte.

De acordo com a denúncia a área dá acesso a um dos principais atrativos do Parque, o Cânio das Andorinhas e a Cachoeira do Gavião. O médico veterinário João Paulo Mourão Vasconcelos explica que a causa provável da morte dos bois seja descarga elétrica, porque os animais estavam muito próximos, e o estado de putrefação era muito similar.

“Se a morte tivesse ocorrido por ervas venenosas, animais peçonhentos, ou pela própria contaminação por botulismo, os animais não teriam morrido tão próximos uns dos outros”, explica o veterinário.

O turista que denunciou o problema afirmou que a presença do pastoreio nesta região é comum, porque a parte superior do parque que não tem fiscalização nem cerca, o que facilita a entrada dos animais, que transitam livremente, inclusive próximos as portarias.
O veterinário explica que o procedimento correto seria enterrar os bois mortos em uma cova profunda, para não ter o risco de cachorros e outros animais domésticos cavarem e encontrarem a ossada.

“A presença da ossada ainda pode atrair animais domésticos, que podem se contaminar com botulismo e morrer. Normalmente a fauna silvestres e os próprios bois não se alimentam de ossos, mas como a região não é rica em nutrientes, as espécies acabam comendo ossos na busca por nutrientes”, afirma Vasconcelos.

A presença do pastoreio também ameaça as nascentes do parque. Como os animais transitam livremente pela região, existe o risco dos bois pastarem perto das nascentes, ocasionando assoreamento.

A Amda entrou em contato com a gerência do parque para denunciar o problema e solicitar a retirada dos animais mortos através dos telefones presentes na página da unidade de conservação na internet, durante os dias 11, 12, 13 e 14 de janeiro, mas o telefone não foi atendido em nenhuma das tentativas.

Falta de regularização fundiária ameaça unidades de conservação

Um dos grandes responsáveis pela soltura de animais em unidades de conservação (UCs) são os proprietários não indenizados que vivem dentro das áreas protegidas, além das comunidades que vivem no entorno das unidades. Quanto mais inserida na área urbana, maiores são os riscos para as UCs.

No caso do Parque Nacional da Serra do Cipó, 83% de seus 31 mil hectares são regularizados, 16% estão judicializados (em processo de transição para serem regularizados, aguardando alguma decisão judicial), e 1% são terras sem documentação, que foram consideradas devolutas, e por isso agora estão em pose do estado.

A bióloga da Amda, Carla Costa, explica que o maior problema da soltura de animais em unidades de conservação é a ocorrência de incêndios florestais em decorrência do pastoreio.

“Criadores de gado ateiam fogo à vegetação visando a renovação das pastagens naturais, em geral sem qualquer controle. Os danos dessa prática nociva são considerados expressivos não só para a biodiversidade, mas também para o solo e mananciais de água, e constituem uma das mais fortes causas da retração das formações florestais de matas de galeria e de encostas, visto que quando se perde o controle das chamas os incêndios invadem áreas de florestas, bem como forte impacto sobre os campos de altitude, tipologia vegetal que abriga inúmeras espécies endêmicas e ameaçadas de extinção”, explica a bióloga.