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Tecnologia auxilia na recuperação de animais

Tecnologia auxilia na recuperação de animais
Crédito: BBC

A tecnologia se torna mais uma aliada para garantir a reabilitação de espécies que sofrem maus tratos ou são vítimas de acidentes. Um projeto feito por veterinários e outros especialistas voluntários, por meio de impressoras 3D, ajudou três animais: dois tucanos e um jabuti. As aves, um macho batizado de Zequinha e uma fêmea com nome de Tieta, tiveram os bicos arrancados. Fred, o jabuti fêmea, perdeu o casco.

Zequinha sofreu um acidente no vôo e se chocou com a janela de um prédio em São Paulo; Tieta sofreu com maus tratos de traficantes de animais no Rio de Janeiro; e Fred perdeu sua carapaça em um incêndio florestal em Brasília.

As histórias mobilizaram profissionais de várias áreas, entre eles veterinários, dentistas, anestesistas e até designers gráficos, que em todos os casos utilizaram material chamado PLA, composto de ácido lático, derivado do milho, e uma impressora 3D para produzir as próteses sob medida de cada animal.

Tentativas e adaptação

Após uma tentativa frustrada de implantar o bico de um cadáver da mesma espécie em Zequinha, os veterinários perceberam como seria difícil encontrar um bico com as mesmas proporções para transplante. Os especialistas então optaram por desenvolver o bico artificial.

Em entrevista para o G1, o veterinário Roberto Fecchio relatou que Zequinha se adaptou bem ao novo bico e consegue se alimentar normalmente. O procedimento foi essencial para que a ave voltasse a ter uma alimentação normal. “Esse tucano não conseguia comer, então, se não fizéssemos a operação ele literalmente morreria de fome. Tínhamos que pensar em algo que o ajudasse”, comentou.

Tieta também passou por momentos difíceis. Antes de receber o novo bico, teve que aprender uma nova técnica para conseguir se alimentar. A ave usava a pata para jogar pedaços de frutas em direção à boca, mas nem sempre acertava. Mesmo após receber a prótese, ela demorou alguns dias para conseguir utilizá-la devido ao trauma. Quando foi resgatada numa feira de comércio de animais silvestres, a tucana estava bem debilitada.

No centro de triagem do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a readaptação de Tieta demorou cerca de dois meses até o implante do novo bico. Com a prótese implantada, a ave precisou reaprender a usar o membro perdido, como explica o diretor do Instituto Vida Livre, Roched Seba, coordenador do projeto. “Nos primeiros três dias após a cirurgia tentamos dar frutas, mas ela não entendeu que já tinha um bico e não conseguia comer. Mas quando passei a usar iscas vivas, como larvas e baratinhas, ela pegou imediatamente”, explicou, imaginando que esta provavelmente foi a última coisa que a tucana consumiu utilizando o bico.

O caso do jabuti demandou muito cuidado e atenção, pois o animal teve duas pneumonias durante o tratamento e ficou 45 dias sem conseguir se alimentar. Fred também teve que ser transportado de Brasília para Santos e depois voltar para dar continuidade à adaptação em Planaltina (DF). O jabuti segue evoluindo na recuperação, mas ainda não está apto a voltar ao seu habitat.

Design e impressão

A técnica utilizada para desenvolver as próteses para os animais é conhecida como fotogrametria, muito utilizada por arqueólogos para medir dimensões de objetos e também adaptada para fazer crânios, cenas de crimes e construções arquitetônicas. O software de reconstrução é bastante usado por designers, que fizeram projetos como a reconstrução dos rostos de Santo Antônio e Maria Madalena.

Inicialmente, foram tiradas medidas e fotos dos animais. Dentistas fizeram moldes que foram repassados para o computador pelos designers gráficos Gustavo Cleinman, no caso de Tieta, e Cícero Moraes, no caso de Zequinha e Fred.

O veterinário Rodrigo Rabello, responsável pelo projeto de implante em Fred, explicou que o procedimento se torna viável pelo preço do material utilizado e pelo software da impressora ser livre. “Um quilo desse material custa R$ 136, é muito barato. Usamos uma impressora 3D fabricada no Brasil, de baixo custo também. E um software livre, que você pode fazer download de graça”, disse.