Zoo de Brasília nega transferência de leão idoso para santuário
Nos últimos dias, mais um caso animal gerou grande repercussão na internet. Um zoológico de Brasília tem sido alvo de críticas por deixar confinado, há quatro anos, um leão idoso em um recinto de concreto, sem luz do sol ou acesso do gramado. O zoo informou que em 60 dias deve concluir a ampliação do espaço – de 77 m² atuais para 177 m², ao custo de R$ 40 mil. Uma petição online pedindo a transferência de Dengo para o santuário Rancho dos Gnomos, em São Paulo, tem mais de 21 mil assinaturas.
Resgatado por maus-tratos de um zoológico em Niterói, Dengo é o único leão vivo de uma série de resgates realizados pelo Ibama em 2007 e 2011. A ex-companheira dele, Elza, morreu em 2013 de câncer. Três outros animais da espécie resgatados em 2007 do Circo Transcontinental morreram de insuficiência renal, depressão respiratória e câncer. De acordo com o zoo, todos tinham Aids felina, assim como Dengo.
O veterinário do zoo, Rafael Bonoremo, diz que os leões resgatados não podiam ser misturados a outros animais por conta da doença e, por isso, o setor “extra” foi criado. Todos os bichos tinham idade avançada e foram resgatados com lesões e com a saúde prejudicada.
A instituição anunciou que não vai transferir o leão Dengo para o santuário. “Já foi definido que não. Tem já o parecer do técnico veterinário, onde não tem esse conselho, porque uma viagem dessas é longa e há desgaste”, disse José Vieira, diretor do zoo.
Maus-tratos
Segundo reportagem do portal G1, ex-tratadores do zoológico afirmam que nem sempre os animais recebem tratamento adequado. Foto enviada ao site por um ex-funcionário da instituição que preferiu não se identificar mostra um leão preso em uma jaula pequena. De acordo com o autor da imagem, o bicho passou meses no pequeno espaço e acabou morrendo. “Ele ficou doente no começo de 2013 e colocaram-no naquela jaula de contenção para poder fazer o tratamento, já que é mais fácil do que pegar ele todos os dias [no recinto]. Mas acabaram deixando ele durante um bom tempo na jaula, mais ou menos dois meses”, relatou.
O veterinário Bonorema afirma que o leão fotografado na jaula foi mantido naquelas condições por 18 dias para um tratamento de fluidoterapia. “Para poder ter um animal totalmente imobilizado, para fazer soro, não é só chegar e simplesmente furar o animal. Não é um gato, é um leão. Às vezes tem que manter numa restrição menor”, disse.
Outro ex-tratador, que também pediu para não ser identificado, afirma que o elefante Chocolate está há mais de oito meses com uma ferida nas costas que não é tratada adequadamente. “A gente sabe que o animal tem que dormir solto, mas todas as noites prendem o bicho na casinha e o animal, que já estava com bicheira, defeca muito. Ele tem que ficar solto jogando lama na ferida, mas fica preso a noite todinha, com as moscas comendo o bichinho”, contou.
Sobre o elefante, o zoo informou que trancar animais em recintos próprios durante a noite é padrão em todas as instituições do país por uma questão de segurança. Ele afirma que a ferida do animal está sendo tratada e já cicatrizando.
Ministério Público
Ainda conforme reportagem do portal, o zoológico está sob intervenção jurídica desde 2005. A promotora de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público, Luciana Bertini, afirma que acompanha de forma sistemática o trabalho na fundação. Segundo ela, uma ação civil pública ajuizada em 2005 resultou em um acordo judicial com a instituição e que, desde então, a maior parte das adequações firmadas já foram cumpridas. Em inspeção judicial realizada no início do ano não foi constatado nenhum tipo de negligência com os animais.
Bertini afirmou que iria oficiar o zoo para que informassem quais providências seriam adotadas em relação ao leão, mas se posicionou contra a transferência do bicho para o santuário. “Nenhuma decisão milagrosa da Justiça vai determinar que fiquem em algum lugar. Se são animais idosos e acamados, como vai submeter à transferência? Médicos veterinários já recomendaram que estão em situação tão peculiar que não é o caso”, disse.