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Especulação imobiliária ameaça represa que pode aliviar crise hídrica em São Paulo

Especulação imobiliária ameaça represa que pode aliviar crise hídrica em São Paulo
Parque dos Búfalos pode ser destruído para construção de unidades habitacionais / Crédito: página parque dos Búfalos no Facebook

Em meio à maior crise hídrica que atinge a Grande São Paulo, uma área de manancial com quase 1 milhão de metros quadrados está ameaçada pela especulação imobiliária. A prefeitura pretende construir, com o governo federal e estadual, 3.860 unidades habitacionais pelo programa Minha Casa Minha Vida. A área verde, conhecida como parque dos Búfalos, margeia a represa Billings, foco atual do governo paulistano para reduzir os impactos da crise d’água. O local é um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica em São Paulo.

Em dezembro de 2013, o prefeito Fernando Haddad revogou o decreto de utilidade pública da área verde. O decreto era um dos requisitos para a criação do parque dos Búfalos. Sem o decreto, abriu-se caminho para o projeto da prefeitura. Para tentar conter as obras e pressionar as autoridades, moradores, ativistas da causa ambiental e políticos fundaram o movimento Parque dos Búfalos Já que, além de organizar atos de resistência, já encaminhou a situação ao Ministério Público.

Os integrantes também criaram uma petição online em favor da criação do parque. O movimento afirma que “a demanda por moradias populares é legítima, mas a escolha do parque dos Búfalos para esse projeto vai trazer graves problemas para toda a cidade”, como a perda de um importante espaço de qualidade de vida numa região carente de espaços de lazer e cultura; destruição de uma das pouquíssimas áreas que restam de Mata Atlântica em São Paulo; e prejuízo à represa que abastece a cidade. “Serão mais de 190 prédios perfurando o lençol freático com suas obras de fundação. As chances das oito nascentes serem destruídas e poluídas são gigantes”, alerta o movimento. Além disso, a chegada de quase 15 mil pessoas na região agravará ainda mais os já existentes problemas de infraestrutura e escassez de serviços públicos.

O movimento Parque dos Búfalos Já sugeriu à prefeitura que as habitações sejam construídas em seis terrenos próximos de corredores de ônibus, escolas, do Hospital da Pedreira e do Shopping Interlagos. Segundo o texto da petição, muitos deles têm dívidas de IPTU maiores que seus valores venais e poderiam ser desapropriados. Além disso, possuem capacidade para construir mais que o dobro de unidades de habitação, ou seja, mais de 7 mil apartamentos.

No dia 22 de dezembro do ano passado, a construtora assinou acordo judicial paralisando as obras até final de fevereiro. Além disso, o movimento conseguiu que 21 vereadores assinassem ofício pedindo o tombamento da área pelo valor ambiental e cultural enviado ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo, que deverá ser analisado em fevereiro.

Assine a petição em favor do parque dos Búfalos! Ajude a preservar essa área que é essencial para a produção e conservação da água, para amenizar efeitos do clima, garantir qualidade de vida e bem-estar das pessoas.

Crise d’água

A represa Billings está no foco de atenção do governo paulistano. O governador Geraldo Alckmin disse que a represa poderá ajudar os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê, que tem tido seus níveis reduzidos drasticamente desde que passaram a socorrer o sistema Cantareira.

O novo presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, admitiu que o manancial pode ser uma alternativa para a crise hídrica de São Paulo. Segundo ele, o reservatório, que tem capacidade para armazenar cerca de 600 bilhões de metros cúbicos, é uma opção para ser utilizada em caso de emergência. “A capacidade da Billings é dez vezes superior ao que está no Cantareira. Nós estamos abrindo todas as possibilidades e abertos a novas ideias”, comentou Kelman. Ele refere-se à segunda cota da reserva técnica do Cantareira, de 60 bilhões de litros.