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Perfuração desenfreada de poços artesianos em São Paulo pode secar reservas subterrâneas de água
A grave crise hídrica que assola São Paulo tem gerado uma corrida contra o tempo para perfuração de poços artesianos em busca de água. Desesperados, condomínios e empresas não aguardam autorização do órgão estadual gestor de recursos hídricos, o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) e o resultado é a clandestinidade. De acordo com a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas), cerca de 80% dos poços artesianos existentes na região metropolitana de São Paulo são irregulares.
Segundo o DAEE, a cidade de São Paulo tem 2.071 poços artesianos outorgados pelo departamento, mas as estimativas de um levantamento da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas) indicam a existência de pelo menos 8 mil poços contando a região metropolitana da cidade, mais de 5 mil irregulares.
A perfuração de um poço artesiano pode demorar meses ou até um ano, segundo reportagem da BBC Brasil. O primeiro passo é solicitar um projeto para uma empresa perfuradora, que levará todos os detalhes ao DAEE. O departamento analisa e libera ou rejeita a perfuração. Este processo normalmente demora cerca de 45 dias, mas já chegou a demorar oito meses em alguns casos.
Depois acontece a perfuração e instalação do poço, que demora mais um mês, e a coleta da água para análise de potabilidade pelo DAEE, que demora mais 20 dias. Se a água for aprovada é preciso requerer a outorga, uma autorização para utilizar aquela água por cinco anos; e, em caso de consumo humano, a inclusão em um cadastro de soluções alternativas de água potável. Para não ter de esperar todo esse processo, muita gente opta pela irregularidade.
Especialistas alertam que a perfuração desenfreada pode causar graves consequências para as reservas subterrâneas de São Paulo. Apesar da abundância de poços artesianos e da grande quantidade de água que eles oferecem, o recurso deles também é finito, ou seja, se mal explorado, também pode acabar. No fim da década de 1990, Recife enfrentou uma seca ainda maior que a atual paulistana e também recorreu a todos os tipos de alternativa, inclusive os poços artesianos. Com isso, alguns reservatórios subterrâneos secaram.
Além disso, a água subterrânea pode ser contaminada. “O DAEE tem inúmeros testes e faz o controle de qualidade da água. Mas quando é irregular, não se sabe se essa água é potável. Às vezes o poço é feito em áreas de contaminação, principalmente por causa de posto de gasolina”, disse Carlos Giampá, geólogo, ex-presidente da Abas e atual conselheiro vitalício da associação.