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Sujeira deixada nas embalagens dificulta reciclagem de lixo em Belo Horizonte

Sujeira deixada nas embalagens dificulta reciclagem de lixo em Belo Horizonte
Crédito: Carlos Rhienck / License: Hoje em Dia

Apenas metade do lixo que chega aos galpões de reciclagem pode ser reutilizado. É o que afirma o doutor em saneamento, meio ambiente e recursos hídricos José Cláudio Junqueira, professor na Universidade Fumec. Segundo Junqueira, 50% do material destinado à reciclagem precisa voltar ao lixo comum e aterros, pois encontra-se sujo ou com resíduos, o que impossibilita o processo de reaproveitamento.

“A prefeitura faz a coleta seletiva – que naturalmente gera mais custos, porque as viagens até os galpões são feitas com uma carga menor do que as convencionais – e, quando chega à triagem, ela é rejeitada. Um copo de iogurte sujo vale menos do que um limpo e não compensa investir na limpeza dele, por causa da inviabilidade econômica”, explicou Junqueira.

Outra dificuldade encontrada é a falta de empresas especializadas na reciclagem de alguns materiais, como o isopor, por exemplo, produto 100% reciclável. “Hoje, possuímos muitos itens feitos com esse material, mas não encontramos com facilidade indústrias que façam o processamento dele. Em Belo Horizonte, temos tido problemas, também, com a destinação dos vidros pelo mesmo motivo”, disse o professor.

Atualmente, apenas garrafas PET, latas de alumínio e papel/papelão são devidamente reaproveitados e valorizados no mercado, mas, de acordo com Junqueira, ainda faltam informações quanto ao descarte desses materiais. “Não devemos colocar na coleta seletiva papel carbono nem papel plastificado. O mesmo vale para as latas de alumínio que contêm produtos químicos, como tintas, solventes e graxa, porque são contaminadas e comprometem o restante do lixo”, explica.

Quanto ao lixo eletrônico, o problema é ainda maior. A lei Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, prevê que os fabricantes, distribuidores e revendedores tornam-se responsáveis pelo descarte correto do lixo reciclável. Porém, a legislação só funciona na teoria, de modo que ainda não foram criados nenhum tipo de acordo para sua prática. “Os eletrônicos têm materiais nobres, mas também têm outros que são contaminantes a quem os manipula e ao meio ambiente. É preciso cuidado e tecnologia para separá-los”, esclareceu o professor da Fumec.

Com o intuito de alertar a sociedade acerca da importância da reciclagem, integrantes da empresa Mult Jr., do curso de Engenharia Química da Universidade Federal de Minas Gerais, criaram quatro pontos de coleta seletiva no campus, no final de outubro. As lixeiras eram divididas em três seções: saúde bucal, maquiagem e escritório. Todo o material coletado será enviado a uma empresa especializada, em São Paulo.

“As pessoas não sabem, mas uma escova de dentes tem vários tipos de plásticos diferentes. As embalagens de esmalte geralmente são descartadas nas coletas de vidro e de plástico, mas o material é perdido se não for limpo”, disse a integrante do Núcleo Social da Mult Jr., Marina Faria.

Hoje, em Belo Horizonte, são soterrados cerca de 340 mil toneladas de resíduos, incluindo papel, vidro, plástico e metal que poderiam ser reciclados. Se esse material fosse reaproveitado, a economia anual seria de R$ 14,6 milhões, além de aumentar a vida útil do aterro de Sabará, para onde o lixo é levado. Além disso, a coleta seletiva em BH ocorre apenas em 34 dos 487 bairros, e o reaproveitamento é efetivo em somente 0,4% do lixo recolhido.