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Na mira da violência: ambientalistas e técnicos do IEF são alvos de ameaças e atentados em Milho Verde
Explosão de bombas, ameaça de morte, tiros e medo, muito medo. O ambientalista Luiz Fernando Ferreira Leite, fundador e presidente do Instituto Milho Verde tem sido alvo de uma verdadeira perseguição pelas atividades desenvolvidas em prol do meio ambiente. No dia 27 de março de 2014 foi baleado na porta da sua residência. Na madrugada do dia dois de julho uma bomba explodiu na porta de sua casa.
Os atentados contra sua vida serão debatidos em audiência pública nesta quinta-feira (10) da Comissão de Direitos Humanos, às 12H, na Sede da Associação Cultural e Comunitária de Milho Verde, Distrito de Milho Verde, que fica no município de Serro, na região Central de Minas Gerais.
O Instituto Milho Verde é uma organização não governamental (ONG) que atua nas áreas de cultura, meio ambiente e desenvolvimento social há 15 anos na região. O distrito de Milho Verde, pertencente ao município de Serro, é um dos pontos turísticos mais fortes em Minas, devido à sua história, patrimônio arquitetônico e à beleza da região onde se localiza. Manter isto é objetivo do Instituto, que conseguiu criar o Monumento Natural da Várzea do Lajeado e Serra do Raio.
O ambientalista explica que a criação do Monumento Natural ocasionou diversos conflitos na região, já que a área protegida contem diversos posseiros e ocupantes irregulares. “Mesmo depois de a unidade ser tombada ainda não houve regularização efetiva e as ocupações irregulares continuam. O MP já realizou diversas reuniões para discutir o assunto, mas os processos estão muito demorados pelo tema ser complicado devido ao coronelismo da região.”, explica Fernando.
Segundo ele, outro conflito recorrente na região acontece na Área de Proteção Ambiental (APA) Estadual das Águas Vertentes, onde o Instituto também atua. Fernando relata que na APA o problema é o desmatamento: “Após o primeiro atentado que eu sofri o gerente da APA pediu demissão, pois ficou com medo de também se tornar vítima de ataques.”
O secretário de meio ambiente do município de Serro também teve sua casa incendiada no mês de junho. Bruno Emiliano, outro ambientalista que atuava junto com Fernando no Instituto Milho Verde, também teve que deixar cidade.
“Outros funcionários do IEF sofrem ameaças constantes por parte dos ocupantes irregulares das unidades. Muita gente ligada ao Instituto está com medo, pensando em qual será o próximo atentado e quem será a próxima vítima. Hoje não tenho expectativas de voltar a viver em Milho Verde. A apuração dos atentados é muito lenta, e mesmo que eles encontrem o executor do crime, é mais complicado chegar até o mandante”, desabafa Fernando.
Apesar da prefeitura de Serro apoiar o instituto, colaborando com um pequeno suporte financeiro, Fernando afirma que a prefeitura não manifestou apoio em relação aos ataques.
A superintendente da Amda, Dalce Ricas, membro do Plenário do Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais, levará o assunto à reunião do mesmo que será realizada no mesmo dia, às 14h, na rua Espírito Santo, 495, 4º andar. “Vamos relatar o assunto na reunião e pedir esclarecimento ao secretário Alceu Torres sobre o que será feito pelo IEF para proteger as unidades de conservação e a segurança dos funcionários do IEF. A ausência do Estado e a impunidade garantem a violência que está acontecendo na região”.
448 ambientalistas foram assassinados nos últimos 13 anos
De acordo com o último relatório da ONG Global Witness, entre 2002 e 2013,908 ambientalistas foram assassinados em todo mundo, mais da metade desses assassinatos, 448, ocorreram o Brasil.
Estes casos se multiplicam, assegura o relatório, à medida que aumenta a concorrência pelos recursos naturais. O desmatamento da Amazônia é um bom exemplo disso. Após quatro anos seguidos de queda na superfície de mata perdida, em 2013 o desflorestamento voltou a aumentar 28%. De acordo com o documento, as regiões mais afetadas são também as que mais registraram violência contra os ativistas que tentam impedir a destruição da mata.