Estado líder na devastação lança Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento da Mata Atlântica
27 de maio de 2014
Crédito Globo Ecologia
Lançado no dia 26.05, às vésperas do Dia Nacional da Mata Atlântica, pelo governador Alberto Pinto Coelho e pelo secretário de Meio Ambiente Alceu José Torres Marques, no Palácio Tiradentes, na Cidade Administrativa, o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento da Mata Atlântica prevê ações relacionadas a cinco temas: fomento florestal, fiscalização, política florestal, normatização e regularização ambiental e implementação de novas tecnologias. O plano propõe medidas a serem cumpridas em curto, médio e longo prazo até 2017.
O plano, elaborado pela Força Tarefa Mata Atlântica, criada há um ano pelo Governo de Minas, prevê investimentos de R$ 50 milhões para combater a supressão ilegal deste tipo de cobertura vegetal em Minas Gerais.
De acordo com o governo, R$ 43 milhões serão investidos no Plano de Proteção da Mata Atlântica, dos quais 19 serão destinados ao Bolsa Verde, que remunera proprietários rurais para preservação de ambientes naturais. O plano inclui também propriedades fora do bioma.
Combate ao desmatamento, incentivo à recuperação de áreas degradadas, utilização de imagens de satélite para monitoramento da cobertura vegetal, aprimoramento de normas e treinamento de técnicos estão entre as ações previstas no plano.
Para a superintendente executiva da Amda, Maria Dalce Ricas, o combate ao desmatamento deve ser uma política constante: “Até agora conter o desmatamento da Mata Atlântica não tem sido uma política de governo. A Secretaria de Meio Ambiente sozinha não faz política ambiental, são necessárias políticas integradas”, afirmou.
Ela lembra que não há amparo legal para autorizar supressão de Mata Atlântica em estágios médio e avançado para fazer carvão ou vender madeira. “Por outro lado, a fiscalização sozinha não resolverá, principalmente por causa do ‘palito de fósforo’, que cria inclusive política de fato consumado: queimou, morreu, agora posso cortar”, completa.
Plano trata o desmatamento como questão rasa
A superintendente da Amda considera que o plano tem propostas muito positivas que, se implantadas, terão certamente resultados concretos para preservação da Mata Atlântica e para o meio ambiente em geral. Mas identifica falhas e informa que a Amda enviará propostas ao secretário de Meio Ambiente, como contribuição para seu aprimoramento.
Para ela, uma das principais lacunas do plano é não deixar claro como outras secretarias de estado participarão de sua implantação: “Com exceção da emissão de nota fiscal pela Secretaria da Fazenda, ele não informa como a Setop, Sede, Seapa, Educação, Sedru, participarão do mesmo”. Ela exemplifica: “A Sede encomendou ao Cedeplar, projeto de desenvolvimento para a região de Morro do Pilar, na Serra do Espinhaço, onde existem ainda importantes e grandes remanescente de Mata Atlântica. A preservação dos mesmos não mereceu uma linha no estudo”, informou.
Ela destaca ainda que o mesmo acontece no Vetor Norte de BH, onde o Governo continua estimulando empreendimentos econômicos e investindo recursos, sem ações que garantam a preservação dos remanescentes florestais que nele ainda existem.
Dalce aponta também como falha a não previsão de inserção do plano no ensino formal, tarefa que deveria ser realizada pela Secretaria de Educação. Por fim, lembra que no Copam, essas secretarias votam sistematicamente a favor do desmatamento: “Por isso reafirmamos que se o plano não for política de governo, seu êxito estará comprometido. Enquanto a Semad for sabotada pelas outras secretarias, a situação continuará difícil”, afirmou.
No que se refere ao desmatamento, ela observa que o plano não prevê identificar mais detalhadamente suas causas, ação que considera importante para definir políticas públicas voltadas a pequenos proprietários rurais que não têm alternativas de renda. “Esta ação deveria, por exemplo, ser executada pela Emater que fala diretamente com o proprietário rural. Mas ela é subordinada à secretaria de agricultura, que normalmente não se alinha a políticas ambientais”, disse.
Regularização ambiental e Tecnologia da Informação
Na regularização ambiental, o investimento será de cerca de R$ 1,3 milhão. Está previsto o estabelecimento de normas ambientais regulamentares, o alinhamento de procedimentos de regularização ambiental, no âmbito estadual e municipal, e a capacitação de agentes públicos para a aplicação dessas normas. Já os investimentos na tecnologia da informação serão de cerca de R$ 9,4 milhões e irão subsidiar ações preventivas que possibilitem monitorar, fiscalizar, proteger e combater a supressão da vegetação nativa do bioma.
O desmatamento na Mata Atlântica aumentou 9% no período de julho de 2012 a junho de 2013 e atingiu 23.948 hectares, dos quais 23.142 hectares correspondem a floresta nativa e 806 hectares a regiões de restinga. A área equivale a 24 mil campos de futebol retirados do bioma mais ameaçado do país. Segundo a ONG SOS Mata Atlântica, responsável pelo levantamento, restam apenas 8,5% dos remanescentes florestais acima de 100 hectares. Se somados fragmentos acima de três hectares, o percentual sobe para 12,5%.
O atlas não mapeia desmatamentos até três hectares, o que indica ser ainda maior em Minas e em todo país.