Repercute: Brasil é o país mais perigoso do mundo para defender o meio ambiente
O Brasil é o país mais perigoso do mundo para ativistas ambientais que defendem o direito do uso da terra. Um relatório da organização Global Witness revela que, entre 2002 e 2013, pelo menos 908 ativistas foram assassinadas em 35 países. Entre os crimes, 448 foram registrados no país. Em segundo lugar no ranking está Honduras, com 109 mortes, seguida das Filipinas, com 67.
O estudo atribui à liderança brasileira no ranking, em parte, aos padrões de propriedade da terra no país, que está entre “os mais concentrados e desiguais do mundo”. De acordo com a pesquisa, os direitos de terras e a exploração florestal ilegal são os principais fatores de conflitos. No centro da questão, estão os interesses agrícolas, base da economia brasileira.
Segundo a instituição, 68% dos assassinatos ocorridos no Brasil em 2012 foram causados por conflitos de terra, ligados ao desmatamento na região Amazônica. Apenas 10% dos casos chegam aos tribunais e apenas 1% resultou em condenação dos autores do crime. Os estados mais violentos nesse caso são Pará e Mato Grosso do Sul.
Para Francisco Mourão, biólogo da Amda, a posição do Brasil é lamentável e revela, na verdade, o caráter violento de parte expressiva da população brasileira, marcada pela formação histórica do país. “Ao se analisar fatos como este, é conveniente lembrar que o país tolerou, e ainda tolera, situações de extrema violência contra brasileiros, incluindo a escravidão negra (cuja extinção ocorreu há pouco mais de um século), massacres em massa como o de Canudos (praticado pelo próprio governo brasileiro também há pouco mais de 100 anos), regimes ditatoriais e ações da polícia, marcados por extrema violência contra a população, ao longo de todo o século passado (se estendendo ainda, infelizmente, pelo atual século)”, explicou. Mourão lembra que, ainda hoje, assistimos fatos envolvendo grande violência, seja contra pessoas isoladas, contra minorias ou torcedores de times de futebol.
“Como as lutas dos ambientalistas muitas vezes envolvem denúncias e ações contra interesses econômicos, a situação da violência se agrava. A própria Amda foi, por muitas vezes, ameaçada ao longo de sua história, seja por parte de setores imobiliários, mineração e agropecuária. A entidade alerta sobre a necessidade de adoção de cuidados mínimos de segurança em casos de ameaças, sem que isso signifique recuar em suas lutas”, pontuou o biólogo.