Brasileiro cria microsensor para desvendar sumiço das abelhas no mundo
Um mini “crachá de identificação” pode ajudar a resolver o mistério do sumiço das abelhas ao redor do mundo. A invenção partiu do brasileiro Paulo de Souza, físico de formação e pesquisador líder da área de microssensores da Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Austrália (Csiro). Desde setembro passado, Souza acompanha um experimento com o intuito de determinar o que tem impactado a vida desses insetos.
O físico desenvolveu um sensor com tamanho de 2,5 por 2,5 milímetros e peso de cinco miligramas que é capaz de transmitir dados e registrar o que acontece com a abelha. O objetivo do microaparelho é acompanhar passo a passo os movimentos de 5 mil abelhas, examinando a polinização feita por elas e sua produção de mel. Cada equipamento custa cerca de R$ 0,63.
Para implantar o sensor nos insetos, os pesquisadores adormecem as abelhas ao colocá-las na geladeira a uma temperatura de 5ºC. Depois, usam uma supercola para fixar o microssensor. De acordo com Souza, o miniequipamento não atrapalha o voo.
Conforme reportagem do portal de notícias G1, os testes na Tasmânia são feitos com quatro colmeias. Duas vivem no ambiente natural da região, que é considerada uma das menos impactadas pela poluição do ar e da água. Elas estão localizadas a um quilômetro de distância de outras duas colmeias, que recebem constantemente pequenas doses de agrotóxicos neonicotinoides no alimento – que tem origem na molécula de nicotina).
Essas substâncias já foram banidas em alguns países por suspeita de intoxicar as abelhas, em um fenômeno chamado de distúrbio do colapso das colônias, quando os insetos não retornam às colmeias e morrem após o corpo sofrer uma espécie de “curto-circuito” possivelmente devido à excessiva exposição a determinados compostos químicos.
Os primeiros resultados do teste mostraram que as abelhas com sensores que tiveram contato com os agrotóxicos demoravam mais para voltar à colmeia, ou nem voltavam. “Os neonicotinoides alteraram o comportamento delas”, afirmou Souza.
Expectativa
Ainda segundo a reportagem, a meta do brasileiro, que lidera uma equipe com outros 13 profissionais, é desenvolver um sensor de 1,5 milímetro até o fim deste ano. Em quatro anos, o tamanho atual deve diminuir em 20 vezes e será implantado na abelha com a ajuda de um spray.
No segundo semestre deste ano a investigação atravessa o oceano e troca de continente. As abelhas do Brasil serão o alvo da pesquisa, principalmente as que vivem na Amazônia. De acordo com Souza, o estudo será feito em parceria com o Instituto Tecnológico Vale, um dos braços da mineradora Vale que é voltado ao desenvolvimento sustentável. Serão implantados entre 10 mil e 20 mil sensores nos insetos para saber se há algum tipo de impacto negativo que influencie a polinização das abelhas.
Problema mundial
Entre as possíveis causas já listadas para o sumiço das abelhas ao redor do mundo estão o uso excessivo de pesticidas, como os neonicotinoides, excesso de parasitas que afetam esses insetos, poluição do ar e da água, além do estresse causado pelo gerenciamento inadequado das colmeias.
Segundo a Organização das Nações Unidas, os serviços de polinização prestados por esses insetos no mundo – seja no ecossistema ou nos sistemas agrícolas – são avaliados em US$ 54 bilhões por ano. Além disso, 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo são polinizadas por alguma espécie de abelha. Somente na Austrália, cerca de 17% de todo o alimento plantado no país, como as frutas, nascem graças à polinização feita tanto por abelhas domesticadas, quanto por espécies selvagens.
Com informações do G1