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Belo Horizonte é classificado em quarto lugar em ranking de contaminantes encontrados nas águas de 20 capitais brasileiras

Belo Horizonte é classificado em quarto lugar em ranking de contaminantes encontrados nas águas de 20 capitais brasileiras
Pescadores na Represa Billings

Pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA) aponta que mesmo atendendo aos requisitos do Ministério da Saúde, a qualidade da água distribuída a 40 milhões de brasileiros, moradores de 20 capitais, ainda precisa melhorar muito. Belo Horizonte foi classificado em quarto lugar, apresentando uma média de 206 ng/l (nanogramas, ou bilionésimos de grama, por litro) de concentração de cafeína na água, substância utilizada como indicador da presença de contaminantes que têm ação estrógena, isto é, um efeito semelhante ao do hormônio feminino.

No levantamento, foram coletadas amostras de água de mananciais e da água já tratada que chega à população em 19 capitais de estados brasileiros e no Distrito Federal. O primeiro lugar ficou com Porto Alegre, com 2.257 ng/l, seguida por Campo Grande (900 ng/l) e Cuiabá (222 ng/l). A capital onde a água é menos contaminada é Fortaleza, com 2 ng/l. “As cidades litorâneas costumam jogar seu esgoto no mar”, lembrou o pesquisador Wilson Jardim. “Isso tende a manter a contaminação do manancial baixa, embora talvez não seja uma boa ideia nadar por ali”, disse. Manaus também tem uma concentração baixa para os padrões brasileiros, de 8 ng/l.

Já no ranking de mananciais, a região metropolitana de São Paulo aparece como a mais contaminada, com um nível médio de cafeína de 4.791 ng/l, sendo que a Represa Billings conta com 18,8 mil ng/l. Segundo Jardim, em mananciais da Europa é difícil encontrar níveis de cafeína acima de 20 ng/l. “Em termos de contaminantes emergentes, no Brasil, bebemos água com qualidade comparável à da água não tratada lá de fora”, disse ele.

De acordo com Jardim, a principal preocupação são os chamados interferentes endócrinos, substâncias que afetam o sistema hormonal de seres humanos e animais. Ele aponta que hoje existem cerca de 800 substâncias do tipo que são consideradas “contaminantes emergentes” da água, ou seja, que aparecem no líquido, mas não são controladas por leis ou regulamentos.

O pesquisador explica que várias dessas substâncias acabam indo parar no esgoto e nos mananciais e são ignoradas nos procedimentos de limpeza da água aplicados antes que ela retorne ao consumo humano. Parte desse material é composta por interferentes endócrinos. Jardim lembra que há uma série de estudos ligando a presença dessas substâncias na água a alterações no desenvolvimento de animais, como peixes e sapos. Ele cita especificamente um trabalho publicado em 2007 no periódico PNAS, em que a contaminação de um lago canadense com uma concentração de 5 ng/l de um hormônio utilizado em pílulas anticoncepcionais levou a população de peixes ao colapso, depois que os machos passaram a exibir características femininas, impedindo a reprodução.