Políticos e madeireiros do Amazonas reagem contra fiscalização
Uma equipe de analistas ambientais do ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), do Ministério do Meio Ambiente, ficou cercada por 11 horas anteontem (10) e foi ameaçada por políticos, madeireiros e grileiros no município de Lábrea (703 km de Manaus), um dos que mais desmatam no sul do Amazonas. As informações são da agência Folha.
De acordo com a agência, que noticiou a fato na última sexta-feira, "dois deles ficaram retidos dentro de um hotel e outros na casa de um deles. Escoltados por cerca de 30 policiais militares, eles foram levados de avião para Rondônia, onde chegaram anteontem".
O protesto aconteceu depois que a equipe fechou serrarias, movelarias e aplicou multas por falta de comprovação da origem da madeira. Os fiscais realizavam a Operação Matrinxã para combater a extração ilegal de madeira da Reserva Extrativista Médio Purus e coibir a retirada de areia das margens do rio Purus para obras do governo estadual.
Ao menos 2.000 pessoas foram para as ruas protestar contra a operação. Entre os manifestantes estavam a secretária de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Nádia Ferreira, o prefeito da cidade, Gean de Campos Barros (PMDB), e o vereador Augusto Almeida (PP) –dono de uma serraria.
Segundo o ICMbio, as analistas ambientais Adriana Gomes e Branca Tressold ficaram retidas dentro da residência do órgão. Foram xingadas e ameaçadas com pedras e pedaços de paus. A mesma situação enfrentou os servidores Antônio Vieira e Bento Arruda, que estavam hospedados em um hotel.
O presidente do ICMbio, Rômulo Mello, disse que os manifestantes foram mobilizados por políticos locais. O escritório do instituto foi fechado temporariamente. "Eles constrangeram nossos técnicos, jogaram pedras nas casas deles e tivemos que retirá-los em função de não ter condições de colocar uma força grande imediatamente, mas estaremos voltando em breve para dar continuidade ao nosso trabalho", afirmou.
Sobre o envolvimento da secretária Nádia Ferreira na manifestação, Rômulo Mello disse que ela ligou tentando equacionar o problema por telefone. Exigiu que uma servidora do instituto participasse de reunião com os multados e explicasse a ação de fiscalização.
"Entendo que as autoridades públicas tenham essa responsabilidade [de salvaguardar a integridade física dos cidadãos], mas espero um relatório para tomar as providencias no campo jurídico’, afirmou Mello.
A reportagem procurou a secretária Nádia Ferreira. Por meio da assessoria, ela negou envolvimento na manifestação e disse que responderia as acusações após retornar de uma viagem, o que não aconteceu até as 17h. O prefeito de Lábrea não foi encontrado. Seu chefe do gabinete, Lucimar Brito, disse que o prefeito e a secretária ficaram indignados com a ação do ICMbio. "A secretária e o prefeito se indignaram porque fecharam as madeireiras", disse. A reportagem não localizou o vereador Almeida.
Fonte: Agência Folha