Ciclo de Vida

Ciclo de Vida da Cerveja

Ciclo de Vida da Cerveja

CICLO DE VIDA

1. Plantio e colheita da cevada

A primeira fase do ciclo de vida da cerveja consiste no plantio da cevada. Hoje, no país, há cerca de 100 mil hectares de áreas cultivadas com cevada cervejeira – o que equivale a aproximadamente 92.593 campos de futebol.

Como qualquer monocultura (grandes áreas com cultivo de uma única espécie de planta), ela gera impactos ao meio ambiente por acarretar problemas para o solo, tais como desgaste, empobrecimento dos nutrientes pela absorção que as plantas fazem durante seu crescimento ou pelo excesso de fertilizantes químicos, e falta de manutenção correta no plantio e replantio. Além disso, o uso de agrotóxicos também causa danos ao meio ambiente, pois eles podem ser carreados para rios e se infiltrar nos lençóis freáticos. Também podem causar danos a saúde dos trabalhadores no campo. Seu plantio, em algum momento, também causou desmatamento.

A colheita dos grãos de cevada é feita com maquinário e equipamentos especiais para que mantenham a qualidade, uma vez que os grãos devem apresentar padrões determinados para esse fim. Essa etapa também traz consigo impactos ambientais: as máquinas utilizadas foram fabricadas com metal produzido a partir de mineração e no processo foram gastos outros insumos – como energia, água, vidro – e gerados resíduos. A queima de combustível fóssil na colheita constitui outro impacto.

2. Processo industrial

Os grãos da cevada são transportados às maltarias (que podem ou não ser anexas a empresas cervejeiras) por caminhões, que normalmente utilizam óleo diesel (combustível fóssil), cuja queima libera gases poluentes, contribuindo para agravar o processo de alterações climáticas. Não há como evitar esse impacto, mas ele deve ser minimizado ao máximo através da economia de combustível, uso de biocombustíveis, regulagem de motores e neutralização de emissões.*

O processo de maltagem consiste em umedecer os grãos com água por alguns dias e fornecer calor ameno para iniciar seu processo de germinação, imitando o crescimento de uma semente no solo. Isso é necessário porque os grãos de cevada são extremamente resistentes, difíceis de serem moídos e de se retirar seus açúcares, pois estão na forma de amido, que não se dissolve prontamente em água. Quando os grãos germinam, o amido é quebrado em unidades químicas menores e, assim que a germinação atinge seu ponto ideal, é interrompida através do aquecimento em fornos. Os grãos são então torrados, caramelizados e transformados em malte.

É necessário lembrar que para todo esse processo foi gasto energia, água, equipamentos e outros materiais, também com geração de resíduos.

O malte é então moído para expor o amido do grão com quebra de sua casca. Durante esse processo, aspiradores captam o pó gerado pelo atrito entre as sementes, que é direcionado para um filtro, visando evitar poluição atmosférica. Em seguida, é misturado em água aquecida (para que ative as enzimas presentes e libere açúcares), resfriado e filtrado, obtendo-se um líquido adocicado – o mosto, que é aquecido na caldeira de fervura até a ebulição (100ºC) para que se obtenha sua estabilização.

É nessa fase que se adicionam os aditivos (materiais formados por carboidratos não maltados) como lúpulo, caramelo, açúcar, mel, extratos vegetais etc, que proporcionam as características típicas de cada tipo e marca de cerveja. Depois disso, o mosto é clarificado, resfriado e aerado com ar estéril (que reproduz a composição do ar atmosférico ao nível do mar, porém, isento de umidade, contaminantes e microorganismos).

Chega-se, então, ao processo central da indústria da cerveja, que é a fermentação, onde leveduras (fungos microscópicos) convertem açucares presentes no mosto em CO2 (dióxido de carbono) e álcool. Isso ocorre em tanques fechados. A grande quantidade de CO2 gerado, após este ser purificado, é enviada para a etapa de carbonatação da cerveja.

Terminada a fermentação, a cerveja obtida é enviada aos tanques de maturação, onde é mantida por períodos variáveis à temperatura de aproximadamente 0ºC. Em seguida, há nova filtração e é adicionado terra diatomácea1 com objetivo de remover partículas em suspensão e também aderir certas substâncias que conferem cor desagradável à bebida. Por fim, após a segunda filtração, a cerveja passa por uma fase de acabamento onde irá receber dióxido de carbono (carbonatação), e outras substâncias que irão garantir qualidade e aumentar seu tempo de prateleira, como estabilizantes e antioxidantes.

A cerveja é, então, enviada para envase, que pode ser feito em latas de alumínio ou garrafas de vidro. A que é engarrafada antes de ser pasteurizada recebe a denominação Chopp. Após ser pasteurizada, ela passa a se denominar cerveja, tal como a conhecemos. O objetivo da pasteurização é eliminar alguns microorganismos que irão prejudicar características originais da bebida.

No processo cervejeiro, os resíduos sólidos são gerados principalmente nas etapas de filtragem, envase e tratamento de água e efluentes. Constituem-se basicamente de resíduos orgânicos, que, ou são aproveitados no próprio processo, ou para fazer ração animal, ou são destinados a aterros sanitários.

É gerado também grande volume de efluentes líquidos, sendo os principais originários das etapas de fermentação, filtragem e envase. Caracterizados por altas taxas de matéria orgânica, esses efluentes têm necessariamente de receber tratamento biológico antes de serem despejados em cursos d’água. Se isto não acontece, ou seja, se são despejados sem tratamento, causam grande impacto ambiental, que se expressa pela mortandade de peixes e outros seres vivos que moram nos corpos d’água.

Em diversas operações do processo é requerido uso de água quente, como, por exemplo, na fervura do mosto e lavagem de garrafas. Esta água quente é produzida em caldeiras, que podem ser alimentadas com lenha ou com recursos naturais não renováveis, tais como óleo combustível, óleo diesel ou gás natural. Nessa fase, ocorrem emissões de gases de combustão (CO, CO2, NOx, SOx e hidrocarbonetos2), que provém das caldeiras para produção de vapor e que devem ser captados por filtros para não serem lançados na atmosfera.

Se o fabricante não tem responsabilidade ambiental, pode usar lenha de origem nativa (e não de plantios florestais), contribuindo para a derrubada de florestas e matança de seus habitantes.

Seja para fins de incorporação no produto ou para operações auxiliares, a água é insumo de vital importância numa cervejaria, pois, além de ser imprescindível em diversas etapas da fabricação, é responsável por inúmeras características de sabor e cor da cerveja.

No processo industrial, para a produção de um litro de cerveja são gastos, em média, cinco litros de água. Segundo o WWF, a água utilizada nas plantações de cevada chega a ser 30 vezes maior que o volume utilizado no processo industrial. Ou seja, no total, são gastos 155 litros de água para cada litro da bebida.

Para ser distribuída a atacadistas e varejistas, a cerveja é embalada em plásticos, cuja fabricação também demandou recursos naturais diversos, além de causar impactos ambientais inerentes ao processo. Sua distribuição, que no Brasil é, na maioria dos casos, feita por transporte rodoviário, demandará mais gastos de recursos naturais (combustíveis fósseis), cuja extração da natureza e transformação gerarão impactos ambientais. E sua queima no transporte também produzirá novos impactos.

3. Embalagens

As principais embalagens utilizadas para cerveja são latas de alumínio e garrafas de vidro. O maior problema ambiental são as garrafas Long Neck, por não serem retornáveis – são descartadas após o uso, e o mercado não tem demonstrado interesse na reciclagem desse material. Até a presente data (07/07/2011), alguns municípios brasileiros, como Nova Mutum (MT) e Japurá (PR) já proibiram sua venda. Várias outras cidades e também o Estado do Paraná estão com projeto de lei para proibição deste material.

As latas de alumínio levam de 100 a 400 anos para se decomporem na natureza. Hoje, 98% das latas produzidas são recicladas. O motivo principal disto é terem valor econômico, e não preocupação ambiental. A latinha pode ser reciclada inúmeras vezes sem perda alguma de suas características.

4. Considerações finais

A cerveja está entre as bebidas mais consumidas do mundo, presente em muitas culturas há séculos. Pode então ser considerada como produto “quase essencial” ao nosso modo de vida. Difícil, assim, pensar ou pleitear que não seja fabricada. Portanto, ao apreciar seu sabor, devemos sempre lembrar que para chegar às nossas mãos, seu Ciclo de Vida demandou utilização de muitos recursos naturais e causou impactos ambientais diversos.

E estamos falando, é claro, de fabricantes que são devidamente licenciados e agem com responsabilidade ambiental. Se isto não acontece, os impactos são muito maiores.

5. Resumo do ciclo de vida da cerveja e seus impactos

1. Plantio da cevada – possíveis desmatamentos, ocupação de terras, danos à fauna, uso de agrotóxicos, gasto de combustíveis fósseis, produção de resíduos e emissão de gases causadores do Efeito Estufa.

2. Industrialização – gasto de recursos naturais diversos, geração de efluentes líquidos e gasosos e de resíduos sólidos, gasto de combustíveis fósseis e emissão de gases causadores do Efeito Estufa.

3. Embalagem e transporte – gasto indireto (fabricação de veículos) e direto (queima de combustíveis fósseis – gasolina, óleo diesel, graxas) de recursos naturais, emissão de gases causadores de Efeito Estufa e geração de resíduos sólidos. 4. Consumo – geração de resíduos (latinhas que são recicláveis, garrafas que, apesar de serem recicláveis, não são recicladas por falta de interesse do mercado. Algumas poucas são retornáveis).

* A neutralização consiste em elaborar inventário das emissões e neutralizá-las através do plantio de árvores nativas ou projetos de geração de energias limpas.

Figura: Representação esquemática do ciclo de vida da cerveja. Fotos obtidas em:

http://www.swhisky.ch/aboutme.htm/

http://www.regiaoemoferta.com.br/site/produtos/verProdutos.aspx tipo=busca&keyword=&ini=1/

http://www.ojornal.net/horaemhora/noticias/29414-aterro-sanitario-irregular-leva-mpe-a-propor-acao-contra-prefeitura-de-porto-nacional/

http://coisassbizarras.blogspot.com/2009/12/mega-sena-da-virada-o-que-fazer-com-o.html.

Acessos em 06 de julho de 2011.

Arte: Ducimeire Clara Eurípedes / Projeto Ciclo de Vida – Amda

Glossário

1 – Terra diatomácea: rocha sedimentar muito porosa e absortente, formada pela precipitação dos restos microscópicos das carapaças das diatomáceas – grupo de protistas com carapaça de sílica. Ocorre em águas doces e salgadas e é utilizada para várias funções: filtração, isolante térmico, absorção, entre outras.

2 – Hidrocarbonetos: moléculas que contém hidrogênio e carbono e existem em diferentes tamanhos e estruturas.

Bibliografia

KORONEOS, C.; ROUBAMS, G.; GABARI, Z.; PAPAGIANNIDOU, E.; MOUSSIOPOULOS, N. Life cycle assessment of beer production in Greece, Journal of Cleaner Production, Thessaloniki, V.13, 433-439,2005.

AQUARONE, E., BORZANI, W. e LIMA, U. A., Alimentos e Bebidas Produzidos por Fermentação, Editora Edgard Blücher, SP, 1983, 240p.

Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja. Mercado – Disponível em http://www.sindicerv.com.br/mercado.php.

SANTOS, M. e RIBEIRO, F. Cervejas e refrigerantes. São Paulo: CETESB, 2005. 58 p. (Série P + L).

WWF. Produção de cerveja: Pegada ecológica da água é maior no cultivo da cevada do que na cervejaria. Disponível em http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agua/agua_acoes_resultados/semana_mundial_da_agua/

producao_de_cerveja__pegada_ecologica_da_agua_e_maior_no_cultivo_da_cevada_do_que_na_cervejaria/.

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