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Ciclo de Vida

Ciclo de Vida do Isopor

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Ciclo de Vida do Isopor

1. Impactos ambientais

A principal matéria prima para fabricação do isopor é o petróleo, combustível hidrocarboneto fóssil não renovável. Grande parte é extraído do mar e transportado por navios.

Com o potencial de intoxicar os animais, o petróleo acaba se fixando nas aves e peixes (em uma rápida busca na internet vemos diversas imagens de animais enchardados de petróleo), causando impactos no sistema nervoso, asfixia e morte. Ele bloqueia a luminosidade, e impede que o fitoplâncton realize a fotossíntese, afetando em larga escala toda a cadeia marinha. Em manguezais, os compostos orgânicos presentes no petróleo, como benzeno, vão ser liberados, até serem degradados, contaminando a água, flora e animais durante anos.

Centenas de derramamentos e vazamentos, com gigantescos impactos ambientais, marcam a história de exploração de petróleo no mundo. Em 20 de abril de 2010, a plataforma marinha Deepwater Horizon da empresa britânica Britsh Petrólium explodiu na costa da Louisiana, deixando 11 mortos e o maior derramamento de petróleo da história dos Estados Unidos.
A BP tentou durante meses conter o derramamento, mas o petróleo afetou 2.000 Km de costas. Pelicanos e tartarugas moribundos chegavam às praias cobertos de óleo; golfinhos e baleias ficaram encalhados na areia.

No Brasil, entre outros desastres causados por petróleo, a explosão do cargueiro chileno Vicuña, no porto de Paranaguá, Paraná, causou morte de quatro tripulantes dos 24 que estavam a bordo e cerca de um milhão de litros de metanol e cinco milhões de litros de óleo combustível vazaram no mar. Centenas de animais, incluindo crustáceos, golfinhos, tartarugas e aves aquáticas, foram encontrados mortos.

Os plásticos produzidos a partir do petróleo são amplamente utilizados pela sociedade e em sua maioria descartados incorretamente, poluindo os ecossistemas e prejudicando a vida selvagem.

Quando descartado na natureza, o isopor decompõe-se em minúsculos pedaços microplásticos, que acabam em rios e mares, impactando diretamente os ecossistemas aquáticos. Estima- se que, todos os anos, milhões de toneladas dessas micropartículas sejam despejadas nos oceanos, causando impactos gravíssimos na fauna e até interferindo na capacidade de absorção de dióxido de carbono pelos oceanos.

Muitos animais confundem microplásticos com alimento e acabam ingerindo plástico no lugar de comida, o que leva à intoxicação e morte. Além disso, o isopor é um tipo de plástico que não se biodegrada e pode permanecer na natureza por centenas de anos.

O descarte do isopor em lotes vagos, ruas e em cursos d’água é uma verdadeira tragédia ambiental. De acordo com o relatório Plastics BAN – Better Alternatives Now, lançado em conjunto por quatro organizações não governamentais nos Estados Unidos, no fim de 2016, o isopor é considerado um dos piores poluidores do planeta.

Importante não esquecer que o Ciclo de Vida do isopor começa pela extração do petróleo, depois fabricação e distribuição. E todo este processo pressupõe transporte (caminhões, queima de combustíveis fósseis), gasto de água, energia (barragens que matam rios), maquinário (feito com aço oriundo da mineração), etc. Assim, a primeira opção é reduzir seu uso no que for possível.

2. Reciclagem

A reciclabilidade do isopor é uma das mais altas que existe. Porém, não é muito atrativa pois por ser extremamente leve e ao mesmo tempo volumoso, tem baixo preço de venda.

Como já dito, grande parte do isopor é jogado nas ruas, em lotes vagos e até em cursos d’água. Nos oceanos há quantidade incalculável de pedaços, principalmente de micros fragmentos. Todos os anos, mais de 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados no mundo têm como destino final os oceanos.

O Brasil é responsável por 8% desse volume. Segundo diagnóstico do programa Lixo Fora D’Água, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o plástico corresponde a 48,5% dos itens que vão para o mar no país. Bitucas de cigarro, isopor, roupas e os apetrechos de pesca estão na lista dos 15 itens mais encontrados nas praias brasileiras. Eles correspondem a 80,3% dos resíduos que vão parar no mar.

No Brasil é reciclado apenas uma parte do EPS. Segundo a Associação Brasileira do Poliestireno Expandido (Abrapex), em 2019 foram recicladas cerca de 36 mil toneladas, o que representa apenas 34% do total produzido no país. Infelizmente não temos políticas públicas que considerem a reciclagem como prioridade, e fabricantes e utilizadores do isopor, de forma geral não têm a mínima responsabilidade sobre sua destinação.

O isopor pode ser reciclado de três formas:

Mecânica: onde o produto passa por um processo para a retirada do ar, restando apenas os flocos, e transforma-se em matéria prima para fabricação de outros produtos. Quando reciclado, o EPS pode ser transformado em matéria-prima para fabricação de diversos produtos, como molduras, rodapés, solas de sapatos, insumos para concreto leve, pranchetas, cabides, vasos, réguas, entre outros.

Energética: nesse tipo de reciclagem o isopor é queimado em usinas térmicas, emitindo vapor d’água e gás carbônico, sendo pouco nocivo neste aspecto. O vapor passa por turbinas com pás que se movimentam, gerando energia cinética que resulta em eletricidade ou calor. Esse é um processo com custo mais elevado e ainda não é utilizado em larga escala no Brasil, mas já é bastante popular em alguns países, como o Japão.

Química: o isopor é reutilizado para produção de outras substâncias, como óleos, gases, solventes e cola, através de reações químicas para que retorne a sua composição inicial, funcionando como matéria-prima para fabricação de outros produtos.

3. Alternativas ao uso do isopor

A substituição do isopor por materiais biodegradáveis, e consequente redução da extração de petróleo, de sua produção é a melhor opção. Na área de alimentação por exemplo, o papelão tem a mesma eficiência. O comércio de pizza é o melhor exemplo. Embalagens de legumes, frutas, pães e outros podem ser substituídos também pelo papelão, sem perda de qualidade.

Em alguns países, mais preocupados com o meio ambiente, já existem no mercado bioespumas, produzidas a partir de resinas de milho, arroz, cana-de-açúcar, soja, mamona e outras plantas, que substituem o isopor na fabricação de bandejas para frutas e legumes, embalagens para aparelhos eletroeletrônicos, suportes para plantio de mudas e tapetes absorventes para produtos químicos. Mas no Brasil nem previsão há para que esse material comece a ser utilizado.

4. Conclusão

Como todo tipo de plástico, o isopor tem sem dúvida usos importantes para o ser humano. Não se trata portanto de bani-lo, e sim de reduzir sua produção à fabricação de produtos essenciais e que não podem ser substituídos por biodegradáveis. E reciclar o que não puder ser.

Como cidadãos podemos contribuir para reduzir a fabricação e uso do isopor, não aceitando, sempre que possível, embalagens desse produto. Nos supermercados e padarias por exemplo, mantém-se o péssimo hábito de embalar pães e outros produtos em bandejas de isopor.

Se puder, peça para colocarem em sacolas de papel ou leve sua sacola. Conte para a família e amigos sobre os impactos ambientais do isopor. Se possível leve o assunto para a sala de aula.

E pouquíssimas empresas têm programa sério e efetivo de redução do uso de plásticos, grupo ao qual pertence o isopor. Na verdade a maior parte das pessoas não sabe o que é Ciclo de Vida de produtos e serviço que utiliza. Ensinar isto, infelizmente, não faz parte do currículo escolar.

Somos responsáveis como consumidores, mas a responsabilidade do poder público, de fabricantes e utilizadores é ainda maior. Mas ela só será exercida se houver cobrança de nossa parte. Políticos, em sua maioria, só agem em benefício público, quando sua eleição ou reeleição é ameaçada. Se tiver oportunidade, cobre deles.