Ciclo de Vida da Latinha de Alumínio
CICLO DE VIDA
1. EXTRAÇÃO DA BAUXITA
Alumínio é extraído do mineral bauxita, bastante comum em Minas Gerais. Seu ciclo de vida começa então com extração da mesma. Aí começam também os impactos ambientais. Para se retirar a bauxita do solo, é preciso remover a vegetação que o cobre e escavá-lo, pois o minério fica um pouco abaixo de sua camada superficial (cerca de 4,5 metros). Mas, não se faz “omelete sem quebrar ovos”. O alumínio é matéria prima para fabricação de produtos – como as latinhas, considerados essenciais pela sociedade. O segredo então é minerar com responsabilidade ambiental ou seja, não poluir cursos d`água, não permitir processos erosivos, recuperar a área após retirado o minério e outras providências amplamente conhecidas pelas empresas e órgãos públicos ambientais.
As principais matérias-primas para obtenção do alumínio são o mineral bauxita (encontrado próximo à superfície, em profundidade média de 4,5 metros) e energia elétrica. Também são utilizados outros produtos, tais como carvão, fluoreto de alumínio, cal, ácido sulfúrico e soda cáustica. Além do alumínio, uma lata contém 1% de magnésio, 1% de manganês, 0,4% de ferro, 0,2% de silicone e 0,15% de cobre.
2. PROCESSO INDUSTRIAL
A bauxita é transportada às fábricas por caminhões, que normalmente utilizam óleo diesel (combustível fóssil), cuja queima libera gases poluentes, contribuindo para o processo de alterações climáticas. Não há como evitar esse impacto, mas ele deve ser minimizado ao máximo através da economia de combustível, uso de biocombustíveis, regulagem de motores e neutralização de emissões.*
Na fábrica o mineral é moído e misturado à soda cáustica, que dissolve a parte que contém alumina, separando-a dos demais componentes, que não são solúveis na mesma. A solução resultante passa por processos de lavagem, sedimentação e filtragem para retirada de impurezas. Nessa etapa, são gerados efluentes com grande quantidade de soda cáustica, que, se fossem liberados em corpos d’água, causariam alterações do pH e redução do oxigênio dissolvido na água, causando imediata mortandade de peixes e outras espécies da fauna aquática, além de tornar a água imprópria para consumo humano e animal.
Mas esse impacto pode ser minimizado, recuperando-se a soda, através de decantação em lagos ou filtragem por meio de filtros prensa, voltando a parte líquida para o processo. Os resíduos sólidos resultantes são dispostos em aterros.
O material que contém alumina é então submetido a reações químicas que provocam sua precipitação, gerando cristais de alumina que são lavados e secados por meio de aquecimento (calcinação). Esse processo gera também emissões atmosféricas – principalmente COV (compostos orgânicos voláteis) – provenientes das caldeiras e fornos de calcinação, que são captadas pelo sistema de tratamento dos gases.
Esse processo de refino transforma a alumina – Al2O3 (óxido do alumínio) – em um pó branco e fino. Para obter o alumínio a partir daí, é preciso quebrar esse óxido, o que é feito através de processo eletroquímico (em solução de fluoreto e sódio em cubas eletrolíticas revestidas de carbono). Essa quebra demanda uso intenso de energia elétrica, fazendo com que a produção de alumínio seja a atividade industrial campeã no consumo da mesma.
Vale lembrar que produzir energia gera impactos ambientais graves. No Brasil, sua principal fonte é barramento de rios, causando alterações sociais e impactos ambientais graves como mudança no ambiente aquático, desmatamento, extinção de espécies da fauna aquática etc.
Além disto e infelizmente, energia elétrica é também produzida por usinas termoelétricas que queimam óleo diesel e gás, combustíveis fósseis, cujo processo gera emissão de gases causadores das alterações climáticas.
Feita a separação, o alumínio é retirado das cubas, em forma líquida e encaminhado para fundição. As cubas são revestidas com material que contém elevadas quantidades de complexos de cianeto, altamente tóxicos. Porém, esse material, denominado Revestimentos Gastos de Cuba (RGC), é reciclável, sendo utilizado no co-processamento em fornos de cimento devido ao seu alto poder calorífico. Nessa fase há ainda geração de emissões atmosféricas – CO2 (dióxido de carbono), CO (monóxido de carbono), fluoretos e COV, cujo processo de tratamento consiste em integrá-los ao processo produtivo e controle através de filtros.
Por fim, o alumínio fundido segue para laminação, que consiste na compressão do metal por cilindros de aço ou ferro fundido com eixos paralelos que giram em torno de si mesmos. A laminação gera escórias (resíduos), que são vendidas para empresas especializadas em processá-las.
3. PRODUÇÃO DAS LATINHAS
As empresas que produzem alumínio não produzem latas. As bobinas de alumínio laminado são compradas por fábricas de latinhas e transportadas por caminhões, gerando novas emissões atmosféricas e impactos já citados devido à queima de óleo diesel.
Nelas, as bobinas são cortadas em chapas que por sua vez serão cortadas em vários discos sob forma de um copo baixinho (aproximadamente dois centímetros), com a mesma espessura da lâmina original. Após isto, sob grande pressão, as paredes externas são esticadas para chegarem próximas à altura padrão das latas (diminuindo a espessura). As latas passam, então, por seis lavagens consecutivas e são esterilizadas em forno de secagem.
O processo consome grande quantidade de água, que pode (e deve) ser tratada e recirculada (reutilizada, evitando uso de “água nova”).
Em seguida, é impresso o rótulo por flexografia (processo de impressão gráfica em relevo, com clichês plásticos e tintas fluidas de secagem rápida) e aplicadas camadas de verniz sobre corpo e fundo das latas para proteger a impressão. Note-se que a fabricação desses materiais exige consumo de diversas matérias primas e causam também impactos ambientais.
As tampas são colocadas em prensa de alta precisão para formação e fixação dos anéis de vedação. Depois, são embaladas e enviadas para empresas envasadoras, onde receberão um composto selante, que garante maior vedação. Após envasadas (cheias de cerveja, suco, refrigerante, etc.), são embaladas em plástico (fabricados a partir do petróleo, combustível fóssil, que também gera impactos) e transportadas, em caminhões às distribuidoras de bebidas (mais gasto de óleo diesel e geração de emissões atmosféricas).
As distribuidoras vendem então para supermercados, padarias, restaurantes, etc., que têm contato direto com os consumidores finais. O transporte é feito também por caminhões ou outros veículos menores que queimam combustíveis fósseis – gasolina e óleo diesel.
Latas de alumínio são utilizadas principalmente para embalagens de bebidas. Um brasileiro consome em média 51 latinhas por ano, enquanto um norte-americano consome 374 no mesmo período.
4. RECICLAGEM
O Brasil é o campeão de reciclagem de latinhas de alumínio, chegando a reciclar 98,2% em 2009. Isto não acontece por consciência ambiental e sim porque têm valor comercial e por isto fonte de renda para milhares de pessoas pobres. As empresas que fabricam alumínio as compram para produzir “alumínio novo”, tornando os custos mais baratos.
Para o meio ambiente, a reciclagem é também de grande importância porque menos minérios serão retirados do solo e o gasto de energia será menor, bem como geração de resíduos diversos.
As latinhas coletadas são encaminhadas às fábricas também através de transporte rodoviário (mais gasto de combustível fóssil), onde são picotadas e submetidas a separadores eletromagnéticos que removem impurezas diversas. Esse processo é finalizado com limpeza através de jatos de ar, que separam do bolo papéis, plásticos e outros materiais. Em seguida, são removidas tintas e vernizes e os pedaços limpos vão para um forno de fusão, no qual são submetidos a um banho de metal líquido para derreter. O metal derretido é colocado em fôrmas e as barras de metal resultantes seguem para etapa de laminação, que são novamente transformadas em latas.
O processo de reciclagem também gera impactos ao meio ambiente, tais como emissões atmosféricas, liberação de efluentes e resíduos sólidos, que obrigatoriamente devem ser minimizados através de tratamento.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No processo de redução de impactos ambientais, o primeiro “R” – redução (de consumo) é o mais importante. No caso das latinhas, por embalarem produtos de alto consumo pela população, aplica-se o segundo – reciclagem, o que depende em muito de cada consumidor.
Apesar de seu valor comercial, muita gente ainda as joga em qualquer lugar, sem pensar que destiná-las à reciclagem é sua grande contribuição para proteção do meio ambiente. Importante informar também, que quanto mais limpas estiverem as latinhas, maior será seu potencial de reciclagem. Por isto não devem ser usadas como cinzeiro, sujas de terra ou restos de comida.
* A neutralização consiste em elaborar o inventário das emissões e neutralizá-las através do plantio de árvores nativas ou projetos de geração de energias limpas).
Figura: Representação esquemática do ciclo de vida das latas de alumínio. Fotos obtidas em http://www.abralatas.org.br/
Arte: Ducimeire Clara Eurípedes / Projeto Ciclo de Vida – Amda
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